São Paulo, sexta-feira, 5 de agosto de 1994
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Paternostro constrói a fantasia de 'Merlin'

DANIELA ROCHA
DA REDAÇÃO

A coreógrafa e diretora de teatro Carmen Paternostro, 46, está de volta. Depois de 8 anos sem apresentar espetáculos em São Paulo, ela traz ao Sérgio Cardoso a peça "Merlin ou A Terra Deserta", do dramaturgo alemão Tankred Dorst e de Ursula Ehler.
O cerne da história, segundo Paternostro, é a decadência das utopias.
"Dorst tomou o mito do Rei Arthur e dos Cavaleiros da Távola Redonda como o primeiro modelo de um governo. Através da decadência do rei, ele mostra no decorrer do texto que a história da humanidade se repete", diz ela.
A peça é dividida em duas partes: "A Távola Redonda" e "O Santo Graal". Na primeira, é criado um mundo justo e ordenado para acabar com as barbáries.
"Na segunda parte o autor mostra que por questões mais simples do ser humano, a incapacidade de realização está em um filho que trai, em uma esposa que trai, enfim, nas paixões humanas que não são teorizadas", conta. O mago Merlin é o condutor de todo esse processo.
A diretora optou por fazer uma montagem que não fosse de época ou com características européias.
"Não quis ficar presa nem ao regionalismo da Bahia nem a um modelo visual céltico. Parti para a fantasia, como se o Merlin participasse de todas as culturas."
O ritmo do espetáculo é dado pelo estilo literário do autor –que mistura lenda, conto, épico e diálogos triviais com lirismo–, unindo à trilha sonora a coreografia –Paternostro trabalha expressão vocal e corporal com seu atores.
Trajetória
Carmen Paternostro tem uma trajetória pouco comum entre diretores de teatro brasileiros. Começou montando espetáculos em Salvador, na década de 70.
Morou na Índia e na Alemanha e voltou ao Brasil em 1981, quando formou a Fundação Pagu de Teatro Dança.
Montou "Noturno para Pagu" (1983), "Lulu, A Caixa de Pandora" (1985), entre outros espetáculos, que lançaram talentos como Beth Coelho e Luís Mello.
"Merlin" é a primeira grande montagem de Paternostro. O texto original renderia 14 horas de espetáculo, que o grupo Intercena, de Salvador, resolveu reduzir para três horas e meia.
A montagem começou a ser preparada em novembro de 92. Depois de sete meses em cartaz no Teatro Castro Alves, esta é a primeira viagem da trupe, formada por 23 pessoas, com idade entre 19 e 35 anos.
"Tivemos dificuldade em conseguir um teatro em São Paulo e de fazer uma turnê com uma equipe tão grande sem um patrocinador forte", diz a diretora.
Depois das nove apresentações em São Paulo, o grupo retorna a Salvador e aguarda a confirmação de convites para levar o espetáculo a Lisboa e Munique.

Peça: Merlin ou A Terra Deserta
Autores: Tankred Dorst e Ursula Ehler
Direção: Carmen Paternostro
Elenco: Edlo Mendes, Evelyn Buchegger, Geraldo Moniz Aragão, Liliane Curi, Lucio Tranchesi, entre outros
Quando: De quarta a domingo, às 19h30. Até 14 de agosto
Onde: Teatro Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, Bela Vista, tel. 011/288-0136)
Preço: R$ 9,00

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