São Paulo, sexta-feira, 5 de agosto de 1994
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Argentinos temem novo anti-semitismo

JUAN JESUS AZNAREZ
DO EL PAÍS, EM BUENOS AIRES

O anti-semitismo encabeçado por bandidos a cavalo desapareceu de cena, mas os judeus argentinos temem que o terror ative outros ódios ou rancores.
O que nos preocupa é que as pessoas associem judeus com perigo, diz Sergio Widder, responsável pelo centro Simon Wiesenthal.
É surpreendente a ausência de patrulha policial nesta instituição, enquanto a vigilância é reforçada diante das escolas e sinagogas.
A sociedade reagiu com espanto e vigor contra a agressão de 18 de julho. A direção da comunidade judaica se manifestou satisfeita com a envergadura das mobilizações e o governo argentino propôs a modificação do Código Penal, com a inclusão de penas de até 25 anos para terrorismo.
Entretanto, não se observa o mesmo apoio quando se trata de recrutar ajuda prática na convocação para a quebra do isolamento.
"O que vou dizer é grave", advertiu um apresentador de televisão, "mas foi assim que começou na Alemanha". Ele se referia às respostas ouvidas numa sondagem feita pela emissora junto a vizinhos contrariados com a proximidade da sede provisória da Amia.
"Começa-se por dizer que esse rechaço não significa ser anti-semita, mas acaba-se por pintar uma suástica na porta", acrescentou.
Nos últimos 22 anos houve 30 atentados anti-semitas na Argentina. Widder admite a possibilidade de que bandos de neonazistas, grupos de extrema direita ou sobreviventes da ditadura procurem utilizar esse temor dos cidadãos de compartilhar domicílios, aulas ou negócios com membros da comunidade atacada.
E não se descarta a possibilidade de que aqueles que hoje evitam os judeus para evitar explosões comecem a apresentar comportamentos racistas e cheguem a subscrever as declarações que, no passado, qualificavam judeus de maus cristãos e pediam seu afastamento por serem indivíduos sem pátria.
Não faz tanto tempo assim que o presidente da Câmara dos Deputados, Alberto Pierri, tachou um jornalista de "judeu piolhento".
Tradução de Clara Allain

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