São Paulo, sexta-feira, 5 de agosto de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Voto útil antecipado

CLÓVIS ROSSI

PORTO ALEGRE – Veterano de muitas batalhas eleitorais, o senador Pedro Simon (PMDB-RS), líder do governo no Senado, começa a acreditar que o chamado voto útil desta vez será aplicado já no primeiro turno do pleito presidencial.
Normalmente, o voto útil ocorre ou em eleições de um só turno ou na segunda rodada dos pleitos com dois turnos. Na eleição presidencial anterior (1989), o voto útil foi no segundo turno. Os partidários dos candidatos eliminados na primeira votação tiveram que escolher o que consideravam o menor de dois males, já que o "bom", o seu próprio candidato, ficara de fora.
Agora, Simon acha que a bipolarização levará a esse tipo de voto já no dia 3 de outubro. O senador dá o exemplo de seu próprio comportamento: em 89, votou primeiro em Ulysses Guimarães ("o voto do coração", diz) e depois em Lula ("o voto da razão", completa).
Desta vez, Simon vota de saída em um candidato que não é de seu partido, o PMDB. Não diz publicamente quem é, mas até o rio Guaíba sabe que é FHC.
Simon argumenta que, ao contrário de 89, não há o voto obrigatório no candidato do partido. Os malufistas de então sentiam-se compelidos a votar em Paulo Maluf no primeiro turno, mas, agora, não têm a mesma inclinação em relação a Esperidião Amin.
Os peemedebistas que deram a Ulysses um voto sentimental tampouco estão, agora, dispostos a repetir o comportamento no que se refere a Orestes Quércia, dadas as diferenças de biografia, sempre na análise do senador gaúcho.
Só Leonel Brizola ainda captaria, acha Simon, esse voto de coração no turno inicial, mesmo assim na dependência de um salto nas pesquisas.
Por tudo isso, Simon acredita que a eleição pode até definir-se no primeiro turno. Tem lógica: a bipolarização facilita esse tipo de definição, por aumentar muito o cacife eleitoral dos dois primeiros. Basta comparar: Collor em 89 ganhou o primeiro turno com 25,11% dos votos válidos. Pelo mais recente Datafolha, essa porcentagem o eliminaria do segundo turno em 94.

Texto Anterior: Censo censurável
Próximo Texto: Uma lei das arábias
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.