São Paulo, domingo, 7 de agosto de 1994
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A lógica de Pilatos

JANIO DE FREITAS

As ações de despejo cresceram 20% em São Paulo, desde a Medida Provisória que fixou normas, em meado de julho, para a conversão dos aluguéis ao real. O presidente Itamar Franco, indignado, recomenda reação contra os proprietários. Mas não reação do governo. Reação por iniciativa dos inquilinos: "entrem na Justiça com ações contra os proprietários que desrespeitam a MP". E, faltou-lhe dizer, em seguida recebam a ação de despejo. Porque, como o plano real preservou a chamada denúncia vazia, os inquilinos não têm defesa possível.
As mensalidades escolares não estão respeitando, salvo uma ou outra exceção eventual, as regras de sua conversão para o real. O governo constata o aumento ilegal e, em seu nome, fala José Milton Dallari, assessor de preços do ministro da Fazenda: "É preciso reagir". Mas não o governo: "Os pais devem recusar a conversão com aumento". O governo "não tem como intervir".
Se o governo tem poderes para determinar como as escolas devem fixar as mensalidades, é porque tem poderes também para não admitir que as fixem contra a norma determinada. Ou, não fosse assim, a determinação da norma não seria mais do que idiotice.
Dada a lógica do governo, o que está em aplicação é o plano Pilatos ou plano lavas as mãos. Com o poder ditatorialesco das Medidas Provisórias, emitidas em quantidade e teor tão abusivos quanto os preços que provocam, o governo faz as determinações que quer, sem levar em conta as consequências. E quando estas se apresentam, agravando dificuldades e aflições, exime-se das suas responsabilidades.
Há o reverso desta lógica, porém. A equipe econômica estabelecera que a inflação não passaria dos 3% no primeiro mês do real. A inflação chegou a 6,95%. Que vêm a ser 7%. Estes quatro pontos de diferença significam um erro de mais de 130% nos cálculos. E os aluguéis e as mensalidades nem entraram no levantamento da inflação com seu peso verdadeiro, porque a equipe econômica se atrapalhou na formulação de suas conversões e as respectivas MPs só saíram em meado do mês.
O cálculo da equipe econômica para agosto era de "inflação próxima de zero". O candidato oficial está anunciando até deflação. Mas, de "próximo de zero", a equipe econômica já pulou para a previsão de "uns 3%", admitindo a razão de especialistas privados a que vinha atacando. E, assim como em julho a falta de reação verdadeira aos preços "abusivos" mais do que dobrou a inflação prevista, em agosto as mensalidades e os aluguéis voltam-se contra o governo.
Modernidade
A campanha eleitoral adapta-se às novidades. A de Fernando Henrique, aproveitando a volta das bicicletas à moda, substitui a tradicional passeata e lança hoje a bicicletada na orla do Rio.
Mas quem preferir pode ir com seu Mercedes-Benz mesmo.

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