São Paulo, domingo, 7 de agosto de 1994
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Lula deverá antecipar ministério 'light' para tentar baixar rejeição

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Lula deverá antecipar ministério'light' para tentar baixar rejeição
Luiz Inácio Lula da Silva quer anunciar antes do primeiro turno da eleição presidencial nomes de pessoas que integrarão seu governo caso, é lógico, vença a disputa.
A idéia que Lula tem exposto a amigos é, com nomes, sinalizar para o eleitorado um governo de coalizão.
O candidato do PT pensa, ao apresentar figuras com expressão na sociedade, escapar do cerco que enxerga estar sofrendo das forças políticas que apóiam Fernando Henrique Cardoso.
Lula quer, também, superar a imagem de despreparado para a Presidência, que é persistente para uma parcela do eleitorado.
O candidato acha que um time de ilustres ao seu lado poderá ao menos diminuir a diagnosticada resistência.
É fato que Lula, até agora, não fez um único convite a possíveis ministeriáveis. Mas já há algumas certezas sobre nomes que serão sondados antes do anúncio.
O advogado Márcio Thomaz Bastos, o geógrafo Aziz Ab'Saber e o empresário Oded Grajew, por exemplo, estão na mira de Lula para seu Ministério.
O pensamento de Lula é também convidar dissidentes de PSDB, PMDB e PDT.
Como só os tucanos baianos romperam com a candidatura FHC, o nome mais expressivo daquela sigla para a equipe de Lula é o do ex-ministro Waldir Pires, candidato ao Senado.
Dentro do PT, Marco Aurélio Garcia, que coordenou a elaboração do programa de governo do candidato, é aposta certa. Garcia é o nome de Lula para o Ministério das Relações Exteriores.
Aloizio Mercadante é o nome óbvio para a Fazenda, mas não se descarta a possibilidade de, eleito vice-presidente da República, ser aproveitado em outro cargo, mantendo porém o papel de formulador para a área econômica.
O professor da Unicamp José Graziano da Silva é hoje um dos mais influentes assessores de Lula. Especialista na questão agrária, Graziano pode ser aproveitado na área ou na assessoria pessoal do petista.
O cientista político Francisco Weffort também não escapará ao convite de Lula, embora não se tenha claro para qual função.
Muito da formação do eventual governo Lula depende da sorte de alguns candidatos do PT a governos estaduais.
Se derrotados, serão chamados para Brasília, para cargos de primeiro e segundo escalões, Olívio Dutra (RS), José Dirceu (SP) e Jorge Bittar (RJ).
Ganhando ou não o mandato de senadora por São Paulo, Luíza Erundina será recrutada para atuar em alguma das chamadas áreas sociais.
É de se prever que o perfil razoavelmente "light" que está se esboçando para a equipe de Lula possa causar problemas internos.
É sabido que as alas de esquerda e extrema esquerda do PT têm hoje a maioria da burocracia partidária e devem cobrar de Lula uma participação efetiva em sua equipe.
Rui Falcão, presidente do PT, fica no meio do caminho. Embora afirme que os nomes não estão em discussão ainda, Falcão aposta num governo de coalizão, mas com forte inserção petista.
"Acho que o governo terá pessoas com expressão na sociedade e também com peso no partido", diz Falcão.
O dirigente não diz, mas a cautela na divulgação oficial dos preferidos de Lula é para evitar a luta interna no meio da campanha eleitoral.
Lula recusa-se a falar em nomes. Brincando, afirma que aprendeu uma lição. "Já vi gente sentando na cadeira antes da hora e acabou não dando certo."
Trata-se de uma provocação a FHC, que, na eleição paulistana de 85, posou para fotografias na cadeira do prefeito e não se elegeu.

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