São Paulo, domingo, 7 de agosto de 1994
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A PSICANÁLISE POR FREUD

SIGMUND FREUD

A psicanálise por Freud
A psicanálise vem encontrando crescente confirmação como método terapêutico, em razão do fato de poder fazer mais por certas classes de pacientes do que qualquer outro método de tratamento. Seu principal campo de aplicação está nas neuroses mais brandas –histeria, fobias e estados obsessivos–, mas pode também proporcionar acentuada melhora ou até a cura em deformações do caráter e em inibições ou anomalias sexuais. Sua influência sobre a demência precoce e a paranóia é duvidosa; por outro lado, em circunstâncias favoráveis, ela pode enfrentar estados depressivos, mesmo que sejam de tipo grave.
Em todos os casos, o tratamento faz pesadas exigências tanto ao médico quanto ao paciente; o primeiro necessita de uma formação especial e deve dedicar um longo período à exploração da mente de cada paciente, ao passo que o segundo deve fazer consideráveis sacrifícios, tanto materiais como mentais. No entanto, toda a dificuldade enfrentada é em geral recompensada pelos resultados. A psicanálise não funciona como uma panacéia de fácil acesso ("cito, tutel, jucunde" –rápido, seguro e agradável) sobre todos os distúrbios psíquicos. Ao contrário, sua aplicação serviu para revelar, pela primeira vez, as dificuldades e as limitações do tratamento dessas afecções.
Os resultados terapêuticos da psicanálise dependem da substituição de atos inconscientes por outros conscientes e são eficazes na medida em que esse processo é relevante para o distúrbio sob tratamento. A substituição é efetuada pela superação de resistências internas na mente do paciente. O futuro irá provavelmente atribuir uma importância muito maior à psicanálise como ciência do inconsciente do que como método terapêutico.
A psicanálise em seu caráter de psicologia da profundidade, considera a vida mental de três pontos de vista: o dinâmico, o econômico e o topográfico.
Do primeiro desses pontos de vista, o dinâmico, a psicanálise atribui todos os processos mentais (afora a recepção de estímulos externos) à ação recíproca de forças, que se favorecem ou se inibem, se combinam, fazem concessões mútuas etc. Todas essas forças são originalmente da natureza de instintos, o que significa que têm origem orgânica. Caracterizam-se por possuir uma imensa persistência (somática) e reserva de força ("compulsão de repetição"), e são mentalmente representadas como imagens ou idéias dotadas de uma carga afetiva ("catexia"). Na psicanálise, não menos que em outras ciências, a teoria dos instintos é um assunto obscuro. Uma análise empírica conduziu à classificação dos instintos em dois grupos: os chamados "instintos do ego", que estão voltados para a autopreservação, e os "instintos objetais", que dizem respeito a relações com um objeto externo. Os instintos sociais não são considerados elementares ou irredutíveis. Especulações teóricas dão lugar à suspeita de que há dois instintos fundamentais que permanecem ocultos sob os instintos do ego e os instintos objetais, a saber, (a) Eros, o instinto se empenha por uma união cada vez mais íntima, e (b) o instinto de destruição, que conduz à dissolução daquilo que vive. Na psicanálise, a manifestação da força de Eros recebe o nome de "libido".
Do ponto de vista econômico, a psicanálise pressupõe que as representações mentais dos instintos têm uma catexia de quantidades definidas de energia, sendo que o objetivo do mecanismo mental é impedir qualquer represamento dessas energias e manter tão baixa quanto possível a quantidade total de excitações a que ele está sujeito. O curso dos processos mentais é automaticamente regulado pelo "princípio do prazer-desprazer", e de tal maneira que a dor está de certo modo relacionada com um aumento de excitação e o prazer com uma redução da mesma. Ao longo do desenvolvimento, o princípio do prazer-desprazer original sofre uma modificação com referência ao mundo externo, dando lugar ao "princípio de realidade", por meio do qual o mecanismo mental aprende a adiar o prazer da satisfação e a tolerar temporariamente sensações de sofrimento.
Topograficamente, a psicanálise considera o mecanismo mental como um instrumento complexo e procura determinar em que pontos dele ocorrem os vários processos mentais. Segundo as mais recentes concepções psicanalíticas, o aparelho mental é composto de um "id", que é o reservatório dos impulsos instintivos, de um "ego", a porção mais superficial do id, que é modificada pela influência do mundo externo, e de um "superego", que se desenvolve a partir do id, domina o ego e representa as inibições do instinto características do homem (...)

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