São Paulo, segunda-feira, 8 de agosto de 1994
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Antonioni assiste Jack Nicholson em 'Lobo'

ARNALDO JABOR
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A vida imita o cinema. Michelangelo Antonioni, apesar de ter ficado mudo em decorrência do derrame que sofreu, move-se quase normalmente com a ajuda de Enrica, uma mulher linda que está ao seu lado desde que atuou em "Profissão: Repórter".
Ali, Antonioni dirigiu Jack Nicholson e, em São Paulo, quis ver as transformações de Nicholson em "Lobo" em uma sessão do cine Gazeta na tarde de sábado.
Antonioni é muito comunicativo em seu silêncio. Como em seus filmes, há muitos signos no silêncio do seu olhar, ao mesmo tempo calmo e profundo. Ele não tem o olhar feroz como o de Picasso, mas um olhar melancólico, na direção de Beckett.
Apesar de ter ficado restrito em sua capacidade de locomoção, Antonioni é quem insiste com Enrica e o secretário particular para sair e conhecer a cidade. Ele disse que quer conhecer a Bahia e o Rio.
Ao lado de Wim Wenders, que vai atuar como uma espécie de diretor de apoio, Antonioni vai filmar quatro histórias de seu livro, "O Boliche sobre o Tibre".
São quatro contos, quase que haicais, que narram histórias de amor entre um homem, uma mulher, e a impossibilidade. A primeira, "Dois Fax" (que já foi "Dois Telegramas") descreve uma mulher que está pensando em se matar e que, ao ver um vizinho no prédio em frente, resolve enviar-lhe um fax. O vizinho lê a mensagem e joga o texto pela janela. As outras histórias serão "Uma Garota e um Crime", "Um Corpo Imundo" e "Crônica de um Amor que não Houve".
Wenders vai fazer uma espécie de estrutura de ligação entre as histórias. O filme vai ser produzido pelo francês Stephan Tchalgadiff e as filmagens estão previstas para durar 11 semanas.
A melhor surpresa da presença de Antonioni no Brasil é que ele trouxe para apresentar em Gramado, pela primeira vez, um semidocumentário de oito minutos que realizou na Sicília em 1989.
O filme é composto de cinco partes: "Noto", "Mandorli", "Volcano", "Stromboli" e "Carnevali". Às imagens silenciosas do carnaval siciliano o diretor soprepôs uma música vinda de outro lugar.
Enquanto espero ansioso o retorno do mestre, volto para o seu lado na platéia do Gazeta e, se tiver mais novidades, conto amanhã.

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