São Paulo, terça-feira, 9 de agosto de 1994
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O bailarino e coreógrafo Lennie Dale morre em Nova York aos 57

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

O paciente Leonard Laponzina, de 57 anos, morreu perto das duas horas da manhã de ontem no setor para pacientes com AIDS do Coler Hospital em Nova York.
O bailarino e coreógrafo Lennie Dale estava doente há quase dois anos e desde janeiro vivia internado no hospital. Nos últimos tempos, extremamente magro, dormia numa cama d'água porque seu corpo estava coberto de feridas. Pouco antes de morrer, Lennie ainda lúcido, pediu à mãe para ser cremado.
Lennie foi o criador dos Dzi Croquettes, um grupo que fez muito sucesso com seus shows escandalosos apresentando um homossexualismo debochado e gozador. A vida dos Dzi Croquettes, no entanto, foi curta e acabou interrompida pela onda conservadora da época.
Em entrevista a Folha, em abril deste ano, o coreógrafo disse que gostaria de visitar os amigos no Brasil, em especial a atriz Betty Faria, de quem sentia muita saudade. Perguntou pelo Carnaval, queria saber os detalhes do casamento de Cláudia Raia com Edson Cellulari, se era verdade que Jorge Ben Jor estava na moda de novo. Pediu uma fita com canções de João Gilberto para ouvir no walkman: "Música americana me dá dor de cabeça", reclamou.
O novaiorquino Lennie Dale conheceu e se apaixonou pelo Brasil em 1960 quando foi convidado por Carlos Machado para fazer a coreografia da peça "Elas Atacam Pelo Telefone" na boate Fred's no Rio. Em seguida foi para o Bottle's Bar no Beco das Garrafas onde dirigiu vários shows de bossa-nova.
Segundo Ruy Castro, foi Lennie Dale quem introduziu a noção de ensaio nos shows de música popular brasileira. Até então, o artista chegava ao teatro na hora da apresentação e cantava, sem nenhuma produção ou preocupação com a expressão corporal.
Elis Regina, discípula de Lennie, dizia que a idéia do famoso gesto de "puxar a rede com os braços" quando cantou "Arrastão"', de Edu Lobo, e venceu a 1º Festival de MPB da TV Excelsior em 65 tinha sido de Lennie Dale. Ele garantia que era criação dela.
Lennie gravou dois discos que foram considerados de grande influência nos cantores de bossa-nova porque, como não tinha técnica vocal, fazia uma alegoria rítmica e de compasso, como se estivesse brincando com a voz.
O bailarino foi o responsável também pela coreografia da Bossa Nova que não era tida como uma música "dançável". Sob sua orientação vários artistas passaram a cuidar desse aspecto da apresentação, como Sérgio Mendes, que começou a usar dançarinas nos seus shows.
Para Nelson Motta, que o conheceu no tempo do Beco das Garrafas, "Lennie era uma pessoa especial, sempre animada, engraçada e carinhosa. Ele acrescentou profissionalismo às apresentações de bossa-nova. Instituiu um padrão americano de produção e musicais. Além disso, tinha um ritmo e uma musicalidade fantástica."
Nos Estados Unidos, Lennie Dale dirigiu um grande número de shows e assinou uma série de coreografias tendo, entre outros artistas, Liza Minelli sob sua orientação no palco.

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