São Paulo, terça-feira, 9 de agosto de 1994
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Ruanda detém 200 por massacres

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Cerca de 200 pessoas acusadas de participação em massacres durante a guerra civil de Ruanda já foram presas pelo novo governo.
A informação foi dada ontem na capital do país, Kigali, pelo premiê Faustin Twagiramungu.
"Faremos tudo que for preciso para assegurar julgamentos justos e equitativos", disse o premiê.
Twagiramungu afirmou na semana passada que mais de 30 mil pessoas, entre elas ex-membros do governo de Ruanda, devem ser julgadas por crimes de guerra.
Estima-se que 500 mil pessoas tenham morrido em massacres, atribuídos em sua maioria a hutus contra a minoria étnica tutsi, durante a guerra no país.
O premiê disse que apóia a criação de um tribunal internacional para julgar os crimes, mas afirma que este não poderia "suprimir as leis do país".
Ele afirmou, porém, que não pode esperar até que um tribunal internacional julgue os acusados.
"Quanto tempo deveremos manter estes suspeitos na prisão? Não podemos esperar tanto tempo pela comunidade internacional".
Ele lembrou que a pena para o crime de genocídio, segundo a lei ruandesa, é a morte.
O premiê disse que o governo também investiga ataques de tutsis contra hutus, mas disse que esses incidentes não têm sido frequentes.
Twagiramungu, um hutu moderado, assumiu o governo após a vitória dos rebeldes tutsis da FPR (Frente Patriótica Ruandesa) na guerra civil, em meados de julho.
A vitória da FPR provocou a fuga de mais de 1 milhão de pessoas, em sua maioria hutus, para campos no Zaire. Eles temem ser mortos pelos tutsis.
A organização Médicos Sem Fronteiras divulgou uma pesquisa que estima em 80 mil os mortos em campos de refugiados do Zaire desde o início do êxodo.
O grupo detectou a morte de 8,3% da população de 80 mil pessoas do campo de Katale entre 14 de julho e 3 de agosto.
"Se a população de refugiados é de 1 milhão, o fato de que 8,3% da população pesquisada morreu pode indicar que até 80 mil refugiados morreram".
Cólera e disenteria são as doenças que mais matam nos campos. Segundo os médicos, o número de casos de cólera está diminuindo, enquanto os de disenteria crescem.
Estão sendo realizados testes para descobrir uma droga capaz de combater a disenteria. O tipo de bactéria causadora da doença tem mostrado resistência ao antibiótico disponível nos campos.
"A droga que pode ser capaz de curar a doença é cara e difícil de obter", afirma comunicado dos Médicos Sem Fronteiras.

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