São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 1994 |
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Presidentes cumprem programas de governo
VINICIUS TORRES FREIRE
Diante disso, e do uso cada vez mais intensivo e refinado do marketing político, parece cinismo ou ingenuidade dizer que a imagem apresentada pelos candidatos antes das eleições, seus programas inclusive, têm algo a ver com a realidade futura dos seus governos. Mas têm. Desde o governo Dutra (1946-1951), os presidentes eleitos cumpriram as diretrizes econômicas gerais definidas em seus discursos de campanha e programas e, fora Collor, muito mais do que isso. Normas macroeconômicas (política fiscal, de comércio exterior, por exemplo) e modelos de desenvolvimento adotados por esses governos corresponderam às intenções explicitadas nos programas de presidentes brasileiros eleitos. Getúlio Vargas, que governou como presidente eleito entre 1951 e 54, falava em nacionalização dos recursos do subsolo, incentivo à eletrificação (faltava energia para as indústrias), planejamento econômico (então uma novidade) e atenção aos direitos dos trabalhadores (ainda que dentro dos limites populistas). Vargas lançou o Plano Nacional de Reaparelhamento Econômico. Criou a Petrobrás. Aumentou o salário-mínimo em 300% no primeiro ano de governo e suprimiu o atestado de ideologia nas eleições sindicais. Aumentou em 67% o fornecimento de energia elétrica. É certo que também durante seu governo foi criada uma lei que exigia autorização da polícia para comícios, entre outras medidas repressivas. Juscelino Kubitschek (1956-1961) cumpriu parte do seu Plano de Metas, a relativa ao programa de industrialização. Collor, mal e mal, colocou na agenda político-econômica do país a discussão da necessidade da abertura da economia, da competitividade e das privatizações. O Plano de Metas e a liberalização da economia eram programas de campanha de JK e Collor. Imaginar que os programas são meras peças de marketing é admitir que milhares de militantes e técnicos envolvidos na sua elaboração são todos piratas esperando para embarcar em mais uma missão de pilhagem. E, mais importante, é ignorar que, quando divulgam suas metas, partidos e candidatos a presidente estão articulando apoios e fazendo compromissos com interesses bem articulados na sociedade. Saber ler um programa não é apenas procurar as listas de promessas quantitativas ("x" milhares de casas populares, ou "y" milhões de empregos) para poder cobrá-las depois. A conjuntura econômica internacional ou novas oportunidades de investimentos, não previstas quando da elaboração dos programas, podem influenciar os resultados e as metas prometidas (muitas delas realmente colocadas nos programas como embalagem vistosa). É preciso verificar as diretrizes e interesses, legítimos ou não, aceitáveis (para cada um), ou não, para saber que país as metas gerais vão criar. E quais são as possibilidade daqueles números "x"e "y" virem a se concretizar. A coluna "Era uma vez" é publicada todas as quartas-feiras Texto Anterior: Em Juiz de Fora, FHC é chamado de 'enganador' Próximo Texto: FHC perde dinheiro com real forte Índice |
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