São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 1994
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Ultrapassagem

Ultrapassagem
NELSON DE SÁ
Da Reportagem Local
O impacto da

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O impacto da ultrapassagem de Lula por Fernando Henrique, no Jornal Nacional de ontem, é difícil de imaginar, por ser imenso.
Mudou o cenário. Agora não é mais Lula na frente, ou Lula e FHC empatados. É FHC favorito, contra Lula, por sua vez, também muito destacado dos demais.
Com dois meses para a eleição, pode ser cedo para FHC. Pode ser cedo para o plano real, por mais que garantam a sua estabilidade, como fazia a Globo, ainda ontem.
Anestesia
O real, que fez de FHC o líder, agora torna-se o alvo preferencial da eleição. Até Orestes Quércia, que privilegiava ataques a Lula, cerrou fileira com os outros e saiu batendo no real, ontem na CBN.
Atacou por todo lado. "Não existe plano. É só para eleição." Como argumentos, usou todos –da "recessão" aos demais:
– Primeiro, o governo não devia ter feito o plano na véspera da eleição. Segundo, não pode manter os juros como estão. Outra questão é que o governo liberou os preços de maneira desbragada.
E tem a saúde, tema favorito de Lula, Amin e Brizola nos últimos dias –agora também de Quércia. "O candidato do PSDB diz apoiar a saúde mas ele cortou as verbas. Fala uma coisa e, na verdade, quando foi ministro fez outra."
O peemedebista, animado pela Justiça, disse que a campanha "começou agora" e aparenta não temer um poder maior do real:
– O povo está motivado pela propaganda do real. A pressão da mídia é grande e o brasileiro fica anestesiado. Mas não dou quinze dias e vão perceber a diferença do salário e do preço das coisas.
Conversão
O bruxo adivinho Paulo Coelho apareceu anteontem no Roda Viva batendo no peito recém-convertido à fé católica –para vender mais alguns milhões de seus livros.
Mais do que a sua constante adaptação dogmático-editorial, mais do que um obsceno orgulho pela fé de última hora, chamou atenção pelo apoio dado à Igreja Universal do Reino de Deus.
A idéia é que a empresa de Edir Macedo não está tendo a liberdade religiosa respeitada. Outra idéia é que ela tem o seu lado bom, por estar voltada aos mais pobres.
Qualquer telespectador atesta que o bispo não só tem liberdade, como tem poder, por concessão estatal. Mais, qualquer espectador atento sabe que ele usa tal poder para uma ação contra as religiões dos mais pobres, no Brasil.
Não é, nunca foi o catolicismo o alvo da Universal. O exorcismo mal ensaiado de sexta, os sermões de fim de noite, tudo na Record tem como alvo central a umbanda, o candomblé –até o espiritismo. Aí não tem liberdade religiosa.

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