São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 1994
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Consumidor memoriza preços em real

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais de um mês após a entrada do real em circulação, alguns consumidores até esqueceram o nome da velha moeda, o cruzeiro real.
Em compensação, é crescente o número de pessoas que começa a memorizar preço. Resgatam, com isso, a noção do que é caro ou barato.
Na opinião de economistas, essa é a senha para que a população force a queda nas cotações.
"Eu já caí no real", diz a consumidora Liana Kauffmann, 35, que fazia compras no supermercado Pão de Açúcar do shopping Iguatemi, zona oeste.
Ela conta que conseguiu guardar o preço de alguns produtos e detectar as oscilações de uma semana para outra.
O pote de 250 gramas do requeijão La Creme, por exemplo, pelo qual pagou R$ 1,97 na última compra, ela levava por R$ 1,25.
"Agora eu sei quanto custa cada produto. Na velha moeda eu não tinha noção porque os preços aumentavam todo dia", diz a estilista Cláudia Maggi, 27.
Em sua última compra, pagou R$ 0,84 por um litro de leite, tipo longa vida. Mas, na semana passada, levava para casa o mesmo produto por R$ 0,75.
Para a publicitária Moema Sanches Bartolo, 48, com o real ficou mais fácil ter idéia de valor. Eu sei, diz ela, que o preço de uma camiseta básica deve girar em torno de US$ 10. Esse é o preço que ela pagou no exterior.
"A parte mais positiva do real é a memorização dos preços", afirma Juarez Rizzieri, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
Segundo ele, esse fator somado ao aumento de poder de compra da moeda são as armas para que o cliente force a queda nas cotações.
Desde a entrada do real em circulação, o movimento dos preços para baixo predominou. Pesquisa da cesta básica Procon e Dieese mostra que, em média, os preços de 31 produtos em 70 supermercados da capital recuaram 5,2% entre os dias 30 de junho e 9 de agosto.
Mas a dispersão dos preços, isto é, variação da cotação de um mesmo produto entre lojas persiste.
A tendência é de diminuir, diz Maria Lumena Ribeiro, chefe da divisão técnica do Procon.
Motivo: com a concorrência acirrada entre as lojas, a gordura dos preços deve ser eliminada, prevê Maria Lumena.
Rizzieri concorda com a análise do Procon. Segundo ele, a variação ainda é grande por causa de estoques antigos. Mas deve diminuir com a reposição das mercadorias.
Cruzeiro real
Após mais de um mês da mudança de moeda, o cruzeiro real não passa de um ilustre desconhecido.
"Não gosto de aceitar troco em cruzeiro velho", diz Carlos Roberto Moreno, 36, cliente do shopping Iguatemi. A rejeição é tanta que ele até esqueceu o nome da velha moeda.
A contadora Yaiko Gonçalves, 52, faz parte do mesmo time: não gosta de receber cruzeiro real. Cláudia Maggi prefere chicletes ou balas de troco no lugar da velha moeda.
Apesar de o cruzeiro real ter caído no esquecimento, isso não garante que a memória inflacionária tenha sido apagada.
"O consumidor é São Tomé: quer ver para crer", diz Rizzieri. Ele reconhece que o nível de expectativa de inflação foi reduzido dramaticamente.
Mas, só será eliminado, diz o economista, se o governo se mantiver firme na contenção dos gastos públicos e pressionando o setor privado para a queda dos preços.

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