São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 1994
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Harrison Ford volta à vida de espião

ANA MARIA BAHIANA
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

Continuando algo que já está se tornando uma constante em sua carreira, Harrison Ford volta a representar um personagem que o público já conhece –agora, o analista da CIA, Jack Ryan, criado pelo escritor Tom Clancy em "Caçada ao Outubro Vermelho" e interpretado por Ford, pela primeira vez, em "Jogos Patrióticos".
Desta vez, Ford é Jack Ryan em "Clear and Present Danger", uma versão do que poderia ser o caso Irã/contras: Ryan se vê envolvido numa operação ilegal do governo americano para exterminar um cartel da droga colombiano, e é forçado a tomar decisões que ele percebe como moralmente correta, mas politicamente desastrosa.
"Clear and Present Danger" estreou na quarta-feira passada nos Estados Unidos, cercado de boas resenhas. Ford já está envolvido em seu próximo projeto, refazer o papel que já foi de Humphrey Bogart na refilmagem da comédia "Sabrina", de Billy Wilder, que Sydney Pollack vai dirigir. "Será uma versão inteiramente contemporânea do filme", Ford disse à Folha. "Não vi e não quero ver o filme original –quero criar meu personagem do zero."

Folha - Você disse que está sempre em busca do conflito essencial de seus personagens. Qual o conflito essencial de Jack Ryan neste filme?
Harrison Ford - Este é um filme sobre escolhas morais e os dilemas que elas provocam. Jack Ryan é um homem do mundo da inteligência, da espionagem, mas desconhece o funcionamento interno do mundo da política.
A tensão que isso provoca nele, o modo como ele é forçado a checar seus valores pessoais de encontro à dubiedade da política é o que me interessa no personagem.
Folha - Qual a sua posição pessoal com relação ao tema "operações secretas"?
Ford - Creio que, como parte do processo democrático, escolhemos pessoas que, acreditamos, vão fazer a coisa certa. O único modo de impedir que elas se desviem desse caminho é manter a vigilância como cidadãos, de forma a conter os excessos do poder.
Acho particularmente interessante o fato de que, hoje, muitas pessoas acreditam que os cartéis da droga, na Colômbia, devem mesmo ser destruídos de qualquer maneira –é um prazer para mim mostrar, com este filme, as consequências de um ato desses, e o que isso representaria, como a perda de vidas inocentes e a traição de nossos princípios morais.
Folha - Seu amigo de longa data, o produtor Mace Neufeld, disse que você sabe tanto sobre cinema que poderia, facilmente, ser um diretor. Seria esse o próximo passo na sua carreira?
Ford - Não. Estou felicíssimo como ator. Acho o trabalho do ator imensamente desafiador, difícil, instrutivo, enfurecedor, excitante. Não preciso dirigir. Não creio que, por ser um diretor, eu vá conseguir ter mais controle sobre os trabalhos que faço.
Eu gosto de ganhar discussões, mas também gosto de ser parte de uma equipe, gosto do processo de criação coletiva. E me sinto melhor, nesse processo, como ator.
Folha - Você tem sido sempre um herói. Interessa a você ser um vilão?
Ford - Não sei se eu fui sempre herói. O personagem de "A Costa do Mosquito" não era a pessoa mais simpática do mundo. Meu personagem em "Acima de Qualquer Suspeita" não era inteiramente honrado, amável, mas era complexo, interessante, e por isso me envolvi com esses projetos.
Não me interessa fazer um assassino em série, um maníaco homicida. Não tenho curiosidade alguma por saber o que se passa com essas pessoas. Mas estarei sempre interessado num personagem complexo e num bom roteiro.

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