São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 1994
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Falta soft para computadores paralelos

CHARLES ARTHUR
DA "NEW SCIENTIST

Milhões de libras são desperdiçadas a cada ano com computadores de processamento paralelo porque o software que empregam é mal desenvolvido, de acordo com um estudo de organizações que os utilizam.
"Apenas uma de cada 50 ferramentas de software desenvolvidas para o trabalho em paralelo pode realmente ser usada na comunidade de pesquisa", diz Cherri Pancake, do departamento de ciências da computação da Universidade Estadual do Oregon (EUA).
Os computadores paralelos são essenciais para muitas tarefas complexas de pesquisa, como o projeto de aviões a jato ou previsões meteorológicas de longo alcance, porque podem executar milhões de cálculos imediatamente e produzir respostas em tempo razoável.
Os computadores convencionais são mais baratos, mas só processam um byte de dados de cada vez.
Mas o mercado de computadores paralelos é pequeno e muitas organizações os compram para fins específicos e especializados.
Há poucos pacotes de software para eles no mercado. Isso faz com que os compradores muitas vezes tenham que desenvolver seus próprios programas.
Uma pesquisa com 448 organizações norte-americanas que usam sistemas paralelos descobriu que muitas escreveram programas com o objetivo de enfrentar o mesmo tipo de dificuldade. Um exemplo é a expressão de resultados numéricos em forma de gráficos.
Os sistemas paralelos podem custar dezenas de milhões de libras, mas esse custo é pequeno perto das despesas envolvidas no desenvolvimento de software para acioná-los –tanto na solução de problemas quanto na interpretação dos dados que produzem.
Durante o estudo, Pancake descobriu uma grande organização que comprou uma máquina custando mais de US$ 10 milhões e que estimava gastar quantia semelhante em programas para o equipamento em prazo de quatro meses.
"A crise do software é real, e está causando sérios problemas", afirmou Pancake em uma conferência durante a British High Performance Computers Initiative, em Londres.
"Dinheiro está sendo desperdiçado". Pancake estabeleceu um consórcio chamado Ptools para tentar conter o desperdício, por meio da coordenação dos esforços dos usuários que visam determinados objetivos.
Até agora, o grupo tem 450 membros na América do Norte. Mas Pancake adverte: "Não vai ser fácil usar estas máquinas por ainda dez anos ou mais".
Dois terços das organizações usam programas que elas mesmas desenvolveram, constatou a pesquisa.
Mais de 90% dos usuários de sistemas muito novos e muito caros –a chamada "vanguarda sangrenta", devido aos altos custos– simplesmente imprimem os resultados dos cálculos que solicitam na forma de listas de números, porque não há no mercado um software capaz de transformá-las em gráficos.
Os programadores do European Weather Centre, de Bracknell, que usa um supercomputador Cray para previsões de longo alcance, desenvolveram seus próprios programas, em lugar de comprar pacotes junto a um fornecedor.
Eles recusaram um pacote desenvolvido por um centro meteorológico de Wisconsin porque não processava os dados de forma padronizada.
"A maior parte da comunidade meteorológica desenvolve seu próprio software", diz David Dent, analista de sistemas do centro.
Pessoas de diferentes centros meteorológicos se reúnem para discutir sobre programação, "mas isso não é a mesma coisa que trabalharmos juntos", diz.
O desenvolvimento do software do centro envolveu até agora três anos-homem de trabalho.

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