São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 1994
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Chip possibilita legendar filmes de TV

ANA LUIZA NASCIMENTO
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

Televisores com decodificadores para programas legendados prometem abrir um novo mercado para as redes americanas.
Os novos aparelhos começaram a ser fabricados por causa do Television Decoder Circuitry Act.
Essa lei requer que todos os aparelhos construídos a partir de julho do ano passado tenham decodificadores internos.
Só os modelos de 13 polegadas ou maiores terão essa função, porque é difícil visualizar o texto em telas menores.
Até a aprovação dessa legislação pelo Congresso norte-americano em 1990, pessoas com deficiência auditiva só tinham uma opção: comprar um Telecaption.
Esse aparelho custa US$ 180 e foi criado pelo National Captioning Institute (NCI) em 1980.
O Telecaption decifra as legendas codificadas no sinal de vídeo dos programas de televisão. É só apertar um botão que as legendas aparecem na tela.
Em 13 anos, foram vendidas 500 mil unidades e a audiência dos programas legendados está em torno de 2 milhões de pessoas.
Essa audiência deve aumentar dramaticamente com a introdução dos novos televisores. Em média, são vendidos 22 milhões de aparelhos por ano nos Estados Unidos. O NCI acredita que o potencial para o serviço de legendas é de 100 milhões de telespectadores.
Este público não é restrito aos deficientes auditivos. "Nos últimos cinco anos, 40% das vendas do Telecaption foram para pessoas interessadas em usar os programas com legendas para aprender inglês como segunda língua", diz Morgan Bramlet, do NCI.
As universidades de Harvard e Maryland, como também vários cursos de inglês para estrangeiros, já usam programas legendados.
"Nosso serviço é voltado principalmente par aos deficientes auditivos, que são 10% da audiência (24 milhões). Mas descobrimos que mesmo as crianças sem problemas de audição se beneficiem com as legendas e aprendem a ler mais rápido", comenta Kathryn Edmundson, diretora do serviço de legendas da CBS.
Estudos experimentais mostram que, dessa forma, as crianças associam a imagem da palavra ao som, facilitando a memorização. O mesmo vale para adultos analfabetos.
Graças ao desenvolvimento tecnológico dos microchips, a ITT Corp e o NCI conseguiram desenvolver um superchip, em 1989.
Em vez de circuitos eletrônicos volumosos, a decodificação é feita por um microchip que pode ser instalado dentro dos televisores.
Com a tecnologia pronta para a demanda de mercado, surgiu a proposta de lei.
Os fabricantes não gostaram da primeira proposta feita pelo Senado. Os fabricantes não queriam ser obrigados a usar só o chip fabricado pela ITT/NCI. Além disso, precisavam de tempo para desenvolver sua própria tecnologia.
No acordo final, as companhias conseguiram manter essa opção, desde que os seus decodificadores obedecessem a certos padrões.
A lei exige que os chips sejam capazes de decifrar os padrões para todo o serviço de legendas.
Elas devem ser escritas em letras brancas, sobre fundo preto, em um tamanho específico e com boa definição. Além disso, há um número standard de caracteres e três estilos de apresentação.
As legendas podem rolar na tela verticalmente, como nos créditos finais de um filme; passar horizontalmente de um lado para outro; ou se revezar na tela. Os decodificadores devem possibilitar também o uso de cor e a colocação das legendas em qualquer ponto da tela.
Os fabricantes tiveram quase três anos para se adaptar à nova lei, desde que ela foi assinada pelo presidente Bush, em 1990.
Mesmo assim, segundo Jerry Surprise, gerente nacional de produtos da Matsushita TV Corp., a companhia perdeu dinheiro.
"Nós usamos dois tipos de chip: o da ITT custa US$ 8 por aparelho e o que nós fabricamos US$ 3 por unidade. Não recuperamos o investimento, em parte porque esse mercado é muito competitivo e é difícil manter os preços em um nível que permita a recuperação."
Além disso, os modelos com decodificadores competem com os antigos que ainda estão no mercado, fazendo os preços destes últimos cair ainda mais.
Os novos televisores podem ter um impacto na audiência, mas não na programação das três redes nacionais de TV: ABC, CBS e NBC.
A maioria dos programas já é transmitida com legendas codificadas, incluindo transmissões ao vivo de jogos e noticiários.
Todas elas, junto com as redes públicas, prestam esse serviço desde o início dos anos 80, sendo que a ABC foi a pioneira.
Já as redes de televisão a cabo, que têm poucos programas legendados, vão ser incentivadas a investir no serviço por causa da possibilidade de uma audiência maior.
O custo das legendas para programas ao vivo é entre US$ 500 a US$ 700 por hora. Para shows gravados, varia entre US$ 1.800 e US$ 2.500 por hora.
Novas aplicações para o serviço de codificação de legendas aparecem todos os dias. A Turner Broadcast já usa programas com legendas em espanhol. Outros países, como Inglaterra, Japão e Coréia do Sul, também já começaram a se interessar pelo sistema.
A tecnologia para transmissão de programas com legendas existe desde 1972. No entanto, nem todo o mundo quer ou precisa assistir programas nesse formato. Por isso, foi criada a codificação das legendas para serem transmitidas pelo sinal de vídeo.
Há dois processos importantes na codificação de um programa.
O primeiro envolve a criação das legendas por um estenógrafo. Para isso, ele usa um computador PC, com teclado e programa especiais de taquigrafia. Este programa de computador traduz os caracteres fonéticos em palavra escrita.
A NCI e a Caption Center desenvolveram seus próprios programas. Já a Vitac usa o "Captivator", da Cheetah Systems.
O computador transmite as legendas por modem para um aparelho chamado encoder. Ao mesmo tempo, o sinal de transmissão do programa também passa por esse aparelho, que então codifica as legendas no sinal de vídeo.
O sinal já codificado é levado ao ar. As legendas sofrem um atraso de dois a três segundos no processo. O encoder normalmente fica no ponto de origem da transmissão ou na sala de controle da televisão.
O sistema de televisão usado nos Estados Unidos é o NTSC, que tem 525 linhas de vídeo. Em cada uma dessas linhas, são codificadas informações de vídeo.
O encoder usa a linha 21 para codificar a transmissão das legendas. Por isso, o chip que decodifica esses sinais nos televisores recebeu o apelido de "linha 21".
O processo para programas gravados é diferente. O importante aqui vem com um sinal de vídeo com o tempo codificado, chamado "time code". O mesmo "Captivator" é usado, mas em uma versão especial, que lê o "time code".
O computador precisa ser equipado com uma placa que permite essa leitura.
Depois que o programa é transcrito, as legendas são arquivadas em disquete. O encoder, conectado a um computador, recebe essa informação e codifica as legendas no sinal de vídeo do programa. Como as legendas foram colocadas usando o mesmo "time code" do vídeo, elas ficam sincronizadas com o que está sendo dito.

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