São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 1994
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ONU teme novo êxodo em Ruanda

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A ONU teme que mais de 2 milhões de refugiados ruandeses entrem no Zaire se as forças de paz da organização não estiverem prontas quando os franceses deixarem Ruanda, no dia 22.
"Se a comunidade internacional não estiver preparada para pôr ação no lugar de palavras e prevenir uma ruptura da situação no sudoeste, isso criará um vácuo que levará à instabilidade", disse Peter Hansen, subsecretário da ONU para assuntos humanitários.
A chancelaria francesa recusou pedidos da ONU para adiar sua retirada da zona de segurança que estabeleceu no sudoeste de Ruanda. "De acordo com nosso mandato sob a resolução 929 do Conselho de Segurança, vamos sair no dia 22 de agosto", disse um funcionário da chancelaria.
Cerca de 1 milhão de refugiados ruandeses cruzou a fronteira para o Zaire há três semanas. Uma pequena parte voltou depois da vitória da Frente Patriótica Ruandesa, que tomou o poder após uma guerra civil de três meses.
Cerca de 500 mil pessoas, na maioria membros da etnia minoritária tutsi e oponentes do governo derrubado, foram mortos desde 6 de abril. A maioria dos refugiados é da etnia hutu, que teme represálias pelos massacres.
A ONU ainda precisa de 1.500 soldados para a tropa de 5.000 necessária para manter a paz em Ruanda. Milhares dos hutus que estão na zona de segurança francesa ameaçam ir para o Zaire quando os franceses forem embora. O destino provável deles é Bukavu, onde já há 300 mil refugiados.
Pelo menos 25 mil pessoas já morreram nos campos de refugiados, vítimas de cólera, disenteria, desidratação e tifo. Segundo Hansen, um estudo do grupo Médicos Sem Fronteiras mostrou que só 0,5% sofre de desnutrição grave.
"Os grandes problemas são água, instalações sanitárias e tratamento médico", disse.
O ministro da Justiça de Ruanda disse que o governo prendeu suspeitos de participar de massacres.
"Estamos preparados para mantê-los presos, pelos padrões internacionais, aguardando processo por um tribunal internacional", disse o ministro Alphonse-Marie Nkubito em carta à ONU.
"Os envolvidos em genocídio e os que criaram condições que levaram milhões de ruandeses a fugir devem ser julgados, condenados e presos", disse em Nairóbi, Quênia, o secretário-assistente de Estado dos EUA John Shattuck.
Pelo menos 15 pessoas morreram em confrontos entre tutsis e hutus no vizinho Burundi em dois dias. O Burundi tem a mesma composição étnica que Ruanda.

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