São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 1994
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Tesoureiro do PTB diz que todos os partidos fraudam bônus eleitoral

GABRIELA WOLTHERS
TALES FARIA

GABRIELA WOLTHERS ; TALES FARIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O tesoureiro-geral do PTB, deputado Gastone Righi (SP), revelou ontem, em entrevista gravada à Folha, uma nova forma de fraudar a lei que regula o financiamento de campanhas eleitorais.
PTB-PSDB-PFL formam a coligação do candidato à Presidência Fernando Henrique Cardoso. Apesar de ser tesoureiro do PTB, Righi não faz parte do comando de campanha de FHC.
Segundo o tesoureiro, empresários e pessoas físicas estão fazendo doações diretas para candidatos ou partidos políticos, sem receber o valor em bônus eleitorais.
Com o dinheiro já no bolso, contabiliza como se fosse recurso próprio –e não doação de terceiros. Para finalizar a operação, emite os bônus em seu próprio nome, e não no nome da firma ou pessoa doadora.
O objetivo dos doadores é manter o anonimato –a lei obriga que os bônus sejam nominais. Além disso, sem registro da doação, os financiadores conseguem utilizar o "caixa 2" das empresas.
A fraude é possível devido a uma brecha na lei eleitoral, aprovada pelo Congresso em 1993. O artigo 38º diz que o candidato pode utilizar recursos próprios, no limite estabelecido pelo partido.
O tesoureiro do PTB concedeu a entrevista com o intuito de criticar a reportagem da Folha publicada no último dia 5, que comprovou fraude com bônus do PL.
Membro de um partido aliado a FHC, ele disse que todos os partidos recorrem ao esquema por ele relatado. Seguem abaixo os principais trechos da entrevista.

Folha – O que o senhor está achando dos bônus eleitorais?
Gastone Righi – Se tornaram uma idiotice.
Folha – O sr. dá bônus?
Righi – Como tesoureiro, se alguém me pedisse o dobro de bônus do que o dinheiro que está doando, como aconteceu com o Flávio Rocha, eu chamaria a polícia ou um hospital de loucos.
O tesoureiro da campanha deveria ter mandado prender o repórter da Folha.
Para comprovar a saída de dinheiro, não é preciso bônus. Se é para dar dinheiro a alguém, sem poder deduzir do Imposto de Renda, então não é necessário recibo.
Porque qualquer um pode dar dinheiro a quem bem entender. Não há lei que proíba alguém de dispor de seus bens.
Folha – Estão fazendo doações sem bônus?'
Righi – Todos os partidos estão recebendo. Porque os bônus foram entregues em questão de três semanas. E as campanhas estão nas ruas há dois ou três meses.
Folha – O sr. está dizendo que as doações estão sendo feitas para o próprio candidato como se fossem recursos próprios?'
Righi – O que eu digo é que não é necessário, obrigatoriamente, o bônus.
O candidato, se quiser, pode tirar do próprio bolso. E, ao tirar do próprio bolso, pode ser dinheiro dele ou que alguém lhe emprestou ou deu.
Folha – Por que o repórter da Folha seria um louco?
Righi – Se eu não posso deduzir na minha contabilidade, por que vou querer um recibo com o dobro do valor? "Caixa 2" não justifica porque, ao contrário, precisa de justificativa da entrada de dinheiro, não da saída.
Saída eu justifico de qualquer maneira. Eu falo que perdi uma mala de dinheiro e ponto final. O bônus não serve nem sequer como papel higiênico, dada a textura.

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