São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 1994
Próximo Texto | Índice

Morre aos 79 anos o pintor Iberê Camargo

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O pintor Iberê Camargo, 79, morreu às 23h45 de anteontem, vítima de insuficiência respiratória, em Porto Alegre (RS). Ele tinha câncer no pulmão e no cérebro.
O enterro do artista está marcado para as 10h30 de hoje. Por decisão de parentes e amigos, Iberê será enterrado no chão e não em uma gaveta de parede.
O corpo de Iberê, que faria 80 anos no dia 18 de novembro, foi velado na pinacoteca central do Museu de Artes do Rio Grande do Sul. O pintor, nascido em Restinga Seca (RS), era casado com Maria e tinha uma única filha, Gerci.
Na entrada da pinacoteca foram colocados dois trabalhos do artista plástico e algumas frases escritas por ele.
Iberê foi internado na madrugada de segunda-feira passada no Pavilhão Pereira Filho da Santa Casa de Misericórdia, especializado em doenças pulmonares. Ele, que há uma semana estava de cama, sentia dificuldades em respirar.
Há cerca de um ano o pintor teve câncer no pulmão. Mais recentemente, havia se manifestado uma metástase (foco secundário) em seu cérebro. Mas o primeiro tumor de Iberê, há anos, havia atingido sua faringe.
Na manhã de anteontem ele atendeu, com um abrir de olhos, a um chamado do amigo Décio Freitas, que o visitou no hospital. Na tarde daquele dia o pintor não respondeu mais a estímulos.
Freitas, historiador conhecido no Rio Grande do Sul, disse que na tarde da segunda-feira, Iberê, mesmo enfraquecido, pegou papel e lápis e fez cinco desenhos. "Ele queria viver mais. Não viver por viver, mas viver para pintar, a obsessão da sua vida", disse Freitas.
Na mesma tarde, Iberê Camargo queria que sua mulher fosse até seu ateliê buscar seu último trabalho, "Solidão", tela sobre óleo de 2 x 4 metros, para que ele a retocasse. O pedido não pôde ser atendido.
O artista concluiu "Solidão" na terça-feira da semana passada, dia em que começou a piorar de saúde e concovou uma entrevista coletiva. Iberê fez críticas "aos zangões que monitoram" a arte e se declarou "independente".
Ele disse que a arte se fundamenta em emoção e expressão. Na sua opinião, a atual produção das artes plásticas brasileira "é só bugiganga".
Uma de suas frases, estampada ontem no museu onde ele foi velado, dizia o seguinte: "Eu creio na eternidade da arte, única permanência da nossa transitória individualidade. O artista é o homem que toca o infinito, você com seu mármore, eu com minhas cores. Ambos procuramos com nossas mãos dar permanência ao transitório".

Próximo Texto: Tira-gosto ; Goiabada e queijo ; Pinguim ; Tropicaliente ; James Dean ; Pára-brisa ; Incubadeira
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.