São Paulo, sábado, 13 de agosto de 1994
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Paulo Coelho escreve prefácio para amigo

PAULO COELHO

Diz o grande poeta argentino: não há maior virtude que a coragem.
E a coragem se manifestou na escolha.
E a escolha se traduziu em atos.
Os atos viraram notas musicais, declarações em jornais, uma pequena revolução que nasceu no meio de um golpe militar.
O caminho ditou seu rumo, e tudo que fizemos foi olhar os sinais. Andei com Raul uma parte desse caminho. Juntos, compartilhamos a agonia e êxtase da busca.
De novo, veio a necessidade da coragem.
E a coragem se manifestou na escolha.
E a escolha se traduziu em atos.
Terminamos por nos separar, e acreditando em caminhos diferentes. Mas sua maneira de ser me ensinou coisas que –muitos anos depois– ainda me acompanham.
O golpe militar acabou, e a revolução continua. Já não é tão pequena assim. Fazem parte dela todos aqueles que ainda conseguem ver sua alma, escutar seu coração. Aqueles que entendem a grande importância de ser uma metamorfose ambulante.
Por isso não volto meus olhos ao passado, quando me lembro de Raul. Eu é que não me sento no trono do apartamento com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar.
Este trabalho não pertence ao passado.
Ele é presente.
E ele é futuro.

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