São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
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Entenda a filosofia de Merleau-Ponty

ALBERTO ALONSO MUNÕZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Para Merleau-Ponty, a experiência humana é um conjunto de "relações de expressão": é um todo em que cada elemento está interligado e coordenado aos demais, submetendo-se a leis invariantes que os presidem e organizam num sistema.
Se, por exemplo, meu corpo se move, o aspecto das coisas que vejo modifica-se automaticamente –a percepção exprime, assim, o movimento do corpo, rearticula-se automaticamente à medida que desvio meu olhar ou ando de um lado para o outro.
Pouco a pouco, Merleau-Ponty faz emergir uma série aberta de leis de funcionamento da estrutura da experiência: leis da percepção, como, por exemplo, a que determina que todo objeto percebido aparece inelutavelmente através de faces ou perfis; leis do tempo, como a que exige que todo presente venha a ser substituído por um futuro; leis, enfim, da história, como a que impõe que o sentido da história não seja sempre o mesmo.
É a partir desse conjunto básico e quase banal de relações que Merleau-Ponty fará surgir o edifício dos objetos simbólicos humanos que pertencem ao domínio da cultura: linguagem, ciência, arte, etc.
Caberá à filosofia descrever com rigor esse conjunto de relações que definem a experiência humana, evitando sempre introduzir em meio a essas relações noções que as distorçam de qualquer maneira.
Contra Sartre, que, para Merleau-Ponty, teria erigido uma ontologia "correta porém abstrata", será preciso agora revisar constantemente os resultados parciais a que a investigação da experiência chegar, a fim de levar o ideal de uma descrição rigorosa até seus limites mais radicais.
(Alberto Alonso Muñoz)

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