São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
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Mais de 1 milhão

Esta edição assinala um recorde histórico na imprensa brasileira. Desde o final da tarde de ontem, um milhão e cem mil exemplares começaram a ser distribuídos para os pontos mais distantes do país. A obtenção dessa marca, inédita entre nós e incomum em escala internacional, amplia as responsabilidades da Folha como veículo de informação e opinião pública.
A ocasião é oportunidade para reiterar compromissos e refletir sobre a função da imprensa numa sociedade marcada, ao mesmo tempo, por extraordinário dinamismo e graves problemas sociais.
É motivo de satisfação assinalar que o patamar agora alcançado não se sustenta no apelo fácil ou em expedientes de curto fôlego. Ao contrário, além de coroar esforços que o leitor habitual vem há muitos anos acompanhando e estimulando, mesmo que por meio de críticas, o recorde se apóia numa iniciativa capaz de contribuir, ainda de forma limitada, para o resgate do nosso gigantesco déficit educacional.
É impossível precisar, por enquanto, a receptividade que o Atlas cuja distribuição começa hoje encontrará nas próximas 19 semanas. A qualidade intrínseca do volume, no entanto, assim como o grande interesse que a divulgação do projeto vem despertando, autorizam as expectativas mais otimistas.
Não é raro que, sob a alegação da liberdade de imprensa, publicações se arroguem a condição de donas da verdade e jornalistas apresentem conclusões precipitadas ou parciais. Mas quanto maior a evidência em que um jornal se coloca, mais severa deve ser –e de fato é– a exigência de seus leitores em termos de precisão e credibilidade.
E quanto mais numeroso for o contingente de leitores dispostos a honrar um jornal com sua escolha, mais cuidadosa deve ser a apuração dos fatos, mais criteriosa a forma de apresentá-los na edição do dia seguinte e mais determinada deve ser a disposição de corrigir falhas ou admitir erros.
Os desafios são múltiplos. Como manter circulações altas e ampliá-las num país onde a alfabetização ainda é uma tarefa longe de ter sido concluída? Como conservar a confiança de leitores de diferentes origens, interesses e preferências em meio às vicissitudes da pressa que respondem por muito da precariedade da imprensa?
A resposta, entretanto, é uma só: investir decididamente em qualidade, na melhoria dos serviços prestados, na isenção perante disputas políticas, na autonomia em face de grupos econômicos. Os resultados colhidos até aqui pela Folha mostram que, embora às vezes penoso, o percurso é não apenas realizável como compensador.
Oxalá projetos como esse possam frutificar, assegurando a livre difusão de informações, a possibilidade de contribuições que alavanquem a educação e a promoção da própria palavra escrita como patrimônio a que todo povo tem direito.

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