São Paulo, terça-feira, 16 de agosto de 1994
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Evento tem metódos de seleção amadorescos

AMIR LABAKI
DO ENVIADO ESPECIAL

Gramado-94 foi um festival em crise aberta. Não financeira, pois há tempos não se via o evento com tantos recursos. A crise é de vocação. Gramado divide-se entre um festival de cinema e um desfile de "starlettes".
Festival precisa de glamour. Os cerca de 80 atores globais que passaram pela serra gaúcha alegraram os caçadores de autógrafos mas nada tinham a ver com cinema.
Festival exige bons filmes. Gramado não os terá enquanto recorrer a métodos amadorescos de seleção. Pela enésima vez: o mais importante festival brasileiro precisa de curadoria profissional.
Para piorar, Gramado subestimou sua última reserva de qualidade: os curtas. A melhor média do ano esteve na competição de curtas em 16 mm. A disputa dos curtas em 35 mm teria sido melhor caso não houvesse a redução dos concorrentes a sete títulos.
A caracterização do festival como evento "latino" não colou. É um selo difuso demais, enfraquecido pela pífia escolha de títulos. A internacionalização foi uma saída transitória dada à crise da produção nacional. A retomada do cinema brasileiro deve reverter esse quadro. A dimensão de Gramado é no máximo latino-americana.
Antes que retruquem: a vinda da Michelangelo Antonioni deveu-se aos bons contatos de Walter Hugo Khouri e não a qualquer relevância européia do festival. Foi o isolado trunfo do evento.
Em resumo, Gramado deve definir-se entre a turma de Antonioni e a dos "teenagers" da Globo. Neste ano, ficou com os últimos. Ganhou o turismo. Perdeu o cinema. (Amir Labaki)

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