São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 1994
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Planalto e PFL pressionam, FHC recua de novo e decide ir a debate

EMANUEL NERI

EMANUEL NERI; GABRIELA WOLTHERS
DA REPORTAGEM LOCAL

Menos de 20 horas após desistir de participar do debate da Rede Bandeirantes, previsto para começar às 22h30 de ontem, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) recuou de novo e decidiu participar.
A desistência de FHC causou um princípio de crise no comando da campanha. O empresário Sérgio Motta e o ex-deputado Pimenta da Veiga eram contra a ida ao debate.
O presidente Itamar Franco, o ministro Henrique Hargreaves (Casa Civil), além dos deputados Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA) e Gustavo Krause (PFL-PE) eram favoráveis.
Itamar, Hargreaves e Krause chegaram a telefonar ontem para o candidato. Ele estava na produtora Diana, que grava seus programas.
Assessores de FHC também discordaram da decisão. Geraldo Walter, coordenador de marketing da campanha, temia desgastes na imagem do candidato.
No PFL e em setores do PSDB, a decisão também foi apontada como equivocada. A avaliação era a de que a faixa mais esclarecida do eleitorado de FHC não perdoa esse tipo de procedimento.
Para quem era favorável à ida de FHC ao debate, o candidato não pode seguir o exemplo de Fernando Collor e Jânio Quadros. Collor se ausentou desse tipo de programa no primeiro turno da eleição de 1989.
Jânio não foi aos debates em 1985, quando disputou com o próprio FHC a Prefeitura de São Paulo. FHC, que concorria pelo PMDB, foi derrotado.
A decisão de ir ou não ao debate tomou praticamente todo o dia de ontem do candidato.
Foram realizadas várias reuniões. Os telefonemas pressionando FHC a ir começaram logo cedo.
O primeiro a telefonar foi Gustavo Krause, candidato do PFL ao governo pernambucano. Depois, telefonou o ministro Hargreaves. Era Itamar quem queria falar com FHC. O deputado José Serra (PSDB-SP) também telefonou.
Por uma falha da central de telefonia da produtora, os telefonemas eram transferidos para a sala da imprensa, em que ficam os repórteres que acompanham FHC.
Os jornalistas ficavam sabendo das reações à desistência de FHC antes mesmo do candidato.
Além da equipe de marketing, participavam das reuniões com FHC o empresário Sérgio Motta e o economista Paulo Renato de Souza, coordenador do programa de governo.
Até o meio da tarde, não se sabia qual a melhor decisão a ser tomada. Temia-se que, mesmo indo ao debate, FHC saísse prejudicado por estar cansado e não ter se preparado adequadamente.
Às 17h40, FHC deixou a produtora com ar contrariado: "Vou tomar um banho lá em casa, vou descansar, não sei".
Para seus assessores, pesou na decisão de ir ao debate o medo que FHC tem de ser identificado como indeciso –um estigma que acompanhava seu partido.
Colaborou GABRIELA WOLTHERS, da Sucursal de Brasília

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