São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O dilema do debate

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Comparecer ou não comparecer ao debate? Eis a questão que embatucou ontem, durante todo o dia, a assessoria de Fernando Henrique.
A maioria dos auxiliares avaliou que o candidato não ganharia nada se faltasse ao embate com os demais presidenciáveis. Pior: poderia perder muito.
Alguns companheiros de campanha de Fernando Henrique chegaram mesmo a se irritar com a decisão inicial do candidato de não ir ao debate.
Partiu-se de um raciocínio elementar. O ponto forte da campanha de Fernando Henrique é a nova moeda. O lado fraco é a aliança com o PFL.
Pois bem. Se faltasse ao debate, Fernando Henrique facilitaria o trabalho de Lula. Permitiria que o candidato petista, ao criticá-lo, desse maior ênfase ao PFL do que à nova moeda.
Avaliou-se que Fernando Henrique deveria estar presente, para neutralizar a estratégia de Lula, puxando a discussão para o campo econômico.
A estabilidade monetária, ainda que temporária, deu a Fernando Henrique dois trunfos: ofereceu-lhe um bom discurso e, simultaneamente, esvaziou a pregação de seu maior rival.
Fernando Henrique, peito estufado, pode alardear que, como ministro da Fazenda, produziu um programa que, além da moeda estável, trouxe a inflação para níveis civilizados.
É certo que estará dizendo uma meia verdade. Longe da estabilidade definitiva, a economia brasileira clama por reformas estruturais.
Mas, do ponto de vista estritamente eleitoral, o discurso de Fernando Henrique causa boa impressão. Tem rendido dividendos eleitorais. Daí a revolta dos aliados com a hesitação do candidato.
Lula está na berlinda. Crítico do real, não pode desancar a nova moeda, sob pena de perder votos. De resto, o eleitor parece não dar muita atenção à parceria entre Fernando Henrique e o PFL.
Além de ajudar Lula, a ausência de Fernando Henrique o transformaria em alvo de todos os presentes ao debate: dos organizadores aos demais candidatos.
Quando ainda ocupava o segundo lugar nas pesquisas, ele desafiou Lula para o debate. A fuga agora, ainda que estratégica, soaria incoerente.
Resta verificar qual será, a partir de hoje, a repercussão do debate. É certo que a presença de Fernando Henrique não assegura um bom desempenho. Mas, se não aparecesse, ele perderia por WO.

Texto Anterior: Motta defendeu a ausência
Próximo Texto: Lula recebe assessor e vai descansar em casa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.