São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 1994
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Internet chega à classe média dos EUA

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

Hip - Associado a, ou em sintonia com, atitudes e gostos avançados.
A gíria americana virou adjetivo nos anos 50 para definir, por exemplo, James Dean em "O Rebelde Sem Causa". Nos anos 60, acabou ligada aos hippies. Eram os cabeludos que fumavam maconha em uma época em que esse comportamento causava escândalo: só por isso mereceram o nome.
Em recente reportagem de capa, a revista "Time" diz que a palavra está perdendo sentido. É que a indústria do entretenimento entrou na parada e em questão de dias transforma o que é batizado de "hip" em objeto de consumo das multidões.
A "Time" fez uma única exceção, dizendo que "hip" atualmente é estar ligado na Internet, a rede de todas as redes de computadores. Uma mudança radical, já que, não faz muito tempo, ser viciado em computador, nos EUA, era coisa dos quadrados, os "nerds".
Se a "Time" está falando da Internet é porque virou assunto da classe média americana. Aliás, hoje é quase impossível escapar do tema. A mídia descobriu o assunto e está submetendo o público daqui a um bombardeio de reportagens sobre a "Net", como é conhecida entre os mais íntimos.
A Internet nasceu informalmente, quando universidades, institutos de pesquisa e órgãos do governo americano estabeleceram comunicação via modem.
A partir do surgimento dela, um cientista de Berkeley não tinha mais que usar o telefone ou receber pelo correio o resultado do trabalho de um colega do MIT, que fica do outro lado do país.
Bastava consultar remotamente o computador de MIT e ali, em um arquivo, teria acesso ao material de seu interesse.
Logo a rede chamou a atenção das empresas privadas, que "plugaram" nela os seus departamentos de pesquisas. A essa altura, o acesso à Internet era quase exclusivo dos que tivessem senhas obtidas em seus locais de trabalho.
Entre eles havia muito estudante e professor com espírito de "hacker", os hippies da cibernética, que colonizaram a rede da mesma forma que os cowboys no Oeste americano.
É a velha guarda que hoje torce o nariz ao ver que seu território corre o risco de ser invadido pela massa, que desconhece os princípios e a linguagem da "Net". Feito paulista surfando no Rio.
É que as redes comerciais dos Estados Unidos, que prestam serviços por computador –American Online, Prodigy, Compuserve– entraram na onda e estão oferecendo a seus usuários acesso à Internet em troca de um acréscimo de US$ 10 a US$ 30 nas assinaturas mensais.
Para frequentar a Internet é preciso, além do computador, modem e linha telefônica, ter um "endereço" obtido oficialmente –em um órgão do governo ou universidade, ou através de uma das redes comerciais.
Os serviços mais utilizados são o correio eletrônico –a troca de mensagens entre os usuários– e os BBS (sistemas eletrônicos de mensagens).
Nos BBS, que já são 5.500, divididos por assunto, grupos de computadores são colocados para "falar" entre si e você bate papo on line sobre a situação na Bósnia, os últimos lançamentos de Hollywood ou seres extraterrestres.
Além disso, se tiver um computador mais poderoso e o software adequado, um usuário da Internet pode pesquisar qualquer assunto, tendo acesso aos gigantescos bancos de dados das universidades e institutos de pesquisa.
Por enquanto, a Internet tem o espírito dos hippies dos anos 60. Não há um comando central, nem regras escritas na legislação.
Funciona sob três princípios que nasceram dos próprios usuários: o acesso a ela deve ser total e ilimitado, toda a informação deve ser gratuita e a "Net" tem que continuar descentralizada.
Só o tempo dirá se esses princípios vão resistir à invasão dos "bárbaros da classe média".

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