São Paulo, sexta-feira, 19 de agosto de 1994 |
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Wynton Marsalis toca jazz por partitura
LUÍS ANTÔNIO GIRON
O grupo repete o show hoje e amanhã, no Bourbon Street Music Club, com o acréscimo de um jam session com brasileiros. Será a oportunidade de os sete músicos praticarem o improviso, coisa que não fizeram no Municipal. Anteontem eles seguiram a partitura. Arrumaram estantes, como bons meninos eruditos. Fizeram um espetáculo perfeito, embora acadêmico. É caso de se perguntar se praticaram jazz real ou o converteram em material para uma extensa peça camerística sobre a história estilos de época no gênero. Não custa lembrar que o jazz se fez pelo descompromisso com a música escrita e as formas estabelecidas. Os jazzistas criaram estilos no ímpeto das performances. No fogo da hora rasgaram barreiras rítmicas, timbrísticas e harmônicas impostas pelos instrumentos e pela tradição. Marsalis faz um jazz erudito, de escoliasta. Está para o jazz assim como os helenistas para a idade clássica ateniense. Seu Homero é Jelly Roll Morton. Duke Ellington funciona como Ésquilo. Thelonious Monk, Eurípedes. Marsalis relê a tradição em interpretações com técnica sem mácula, nutrida no conservatório. Sua composições também consistem em comentários e notas de rodapé às aquisições do jazz. Acha que tem a missão de levar adiante a "mainstream". Documenta e escreve todas as notas para que seus asseclas toquem com fidelidade. Ao longo de um show de duas horas e quinze minutos, houve raras improvisações, ainda assim em estilo dixieland. Cada peça foi acompanhada por uma explicação, o título e o compositor. Sobre sua composição, a longa "In the House, On this Morning", comentou como um maestro no ensaio: "Vamos tocar agora o terceiro movimento a partir do compasso 190". Essa atitude seria impensável entre os jazzistas da "mainstream" nos anos 40 e 50. Eles caçoavam dos colegas europeus porque eles tocavam por música. Hoje é uma questão de sobrevivência de uma tradição que desaparece. Wynton Marsalis altera o estatuto do gênero. Cimentou-o à música erudita. Jazz virou escritura. Show: Wynton Marsalis Septet Músicos: Wynton Marsalis (trompete), Wycliffe Gordon (trombone), Eric Reed (piano), Herlin Riley (bateria), Vicotr goines e Wessel Anderson (saxofones) e Benjamin Wolfe (contrabaixo) Onde: Boubon Street Music Club (r. dos Chanés, 127, tel. 816-0829, Ibirapuera, zona sul) Quando: hoje e amanhã, às 22h Quanto: de R$ 45,00 a R$ 60,00. Hoje, ingressos esgotados Texto Anterior: Suíços fizeram sucesso em BH Índice |
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