São Paulo, sexta-feira, 19 de agosto de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vale-tudo

LUIZ CAVERSAN

RIO DE JANEIRO – Tem muita gente se apegando ao fato de Fernando Henrique Cardoso supostamente se recusar a falar sobre drogas e de Lula supostamente se recusar a falar sobre aborto.
Malandragem de parte a parte. Ou seja, da parte daqueles que querem colocar Fernando Henrique em maus lençóis abordando um tema capcioso e da parte dos que pretendem ver Lula enrascado numa questão que já provocou desgastes nas relações entre o PT e a Igreja.
As drogas e suas implicações –diferenciação da droga "leve" da "pesada", a descrimininalização das primeiras etc.– e também o aborto –questões médicas, morais e legais incluídas– não são temas que devam constar da agenda ou do programa de candidatos à Presidência da República.
São problemas de responsabilidade da sociedade como um todo, e por ela devem ser enfrentados, esmiuçados e debatidos, no sentido de se aprimorarem as leis, atualizarem-se os costumes e, enfim, modernizar-se a convivência social.
Qualquer tentativa de tirar esta prerrogativa da sociedade –ainda mais transferindo-a com fins eleitoreiros para a arenosa seara das artimanhas políticas– significa interpor obstáculo diante de uma discussão que simplesmente não deve ocorrer nestes termos.
Opinião de candidato, agora, não contribui em nada para que os temas sejam adequadamente abordados. Serve, vale repetir, apenas a interesses eleitorais imediatistas.
No vale-tudo das coligações –em que o adesismo aflora desenfreado– surgem mais duas malas para o PSDB carregar.
Primeiro, em nível federal: o deputado federal e candidato a Roberto Campos (PPR-RJ) diz que Esperidião Amin pode renunciar ainda no primeiro turno para apoiar FHC.
E, em nível estadual, Amaral Netto (também deputado e candidato a pelo mesmo PPR) resolveu assumir que não está nem aí com o candidato da coligação a que pertence seu partido, o general Newton Cruz. Já está com um pé na candidatura do peessedebista Marcello Alencar.
Só para lembrar: Fernando Henrique e Alencar foram ferrenhos adversários do regime militar, apoiado da primeira à última hora por Amin, Campos e Amaral.

Texto Anterior: Chorando de cofre cheio
Próximo Texto: Conversa de militantes
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.