São Paulo, sábado, 20 de agosto de 1994
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Ricupero ameaça conter alta com 'choque tarifário'

FIDEO MIYA

O ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, afirmou ontem em São Paulo que o governo não vai tolerar repasses injustificados dos reajustes salariais aos preços e ameaçou os empresários com a liberação das importações e redução das tarifas alfandegárias.
"Se for necessário, farei um grande grande choque tarifário para obrigar os preços a baixarem", afirmou Ricupero em entrevista coletiva no Hotel Mofarrej.
Ele fez a ameaça logo após proferir uma palestra no seminário "Para onde vamos com o Real?", promovido pela Internews, com o apoio da Folha e patrocínio do Banco Icatu.
O ministro da Fazenda lembrou que um artigo introduzido na Lei 8.880/94, que criou a URV, assegura reajustes salariais correspondentes às perdas inflacionárias medidas pelo IPC-r, na data-base de cada categoria profissional.
Durante a palestra, Ricupero enfatizou sua "indignação"com as remarcações de preços em junho, responsáveis por boa parte dos 6,08% apurados pelo IBGE no IPC-r de julho e que terá efeitos nos reajustes salariais.
"Espero que não venham nos dizer que isso é custo novo", advertiu o ministro. Ele afirmou que vai usar "todos os meios" para impedir o repasse desses reajustes aos preços, argumentando que "grande parte desse aumento ocorreu por causa das remarcações feitas em junho".
Se ocorrerem repasses dos aumentos salariais aos preços, o governo vai verificar como ocorreram as negociações e examinar caso a caso, disse o ministro. Apesar disso, ele previu que "a inflação de agosto será bem menor do que a de julho e a de setembro menor ainda".
O ministro da Fazenda disse que, nos últimos dois anos, várias empresas abusaram da sua posição de domínio de mercado, aumentando seus preços em até 80% reais, acima da inflação.
Mas acrescentou que, quando o governo abriu as importações, essas empresas foram obrigadas a reduzir os preços. Citou como exemplo os produtos de higiene feminina, cujos preços baixaram 50% uma semana depois que o governo abriu as importações dessas mercadorias.
"Vários produtos estão na alça de mira do governo", disse Ricupero, advertindo que, "quando eu baixar as tarifas de importação, será para valer até o final do ano".
Com essa expressão, ele quer garantir que os importadores poderão trazer com tranquilidade as mercadorias do exterior, já que as tarifas não serão revistas de uma hora para outra.
Exportações
O ministro da Fazenda anunciou um pacote de incentivos às exportações baseado em quatro conjunto de medidas.
O primeiro é a redução de impostos federais e, numa segunda etapa, dos tributos estaduais, principalmente o ICMS, que incidem nos insumos e matérias-primas de produtos destinados à exportação.
O segundo conjunto de medidas é o aumento dos financiamentos à exportação já a partir deste ano, alcançando principalmente as pequenas e médias empresas.
O terceiro item é a instituição do seguro de crédito à exportação, visando também as pequenas e médias empresas.
O quarto conjunto de medidas visa dar apoio nas áreas de tecnologia, produtividade e treinamento de mão-de-obra para os setores sem competitividade no mercado internacional em função de problemas estruturais.
Entre esses setores, ele citou os de calçados, móveis e têxtil.

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