São Paulo, sábado, 20 de agosto de 1994
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PSDB repete tática de Collor e divulga que Lula dará um calote na poupança

DENISE MADUENO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O comitê de campanha de Fernando Henrique Cardoso (PSDB-PFL-PTB) distribuiu ontem a jornais do interior do país a informação de que, se eleito, o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, pode dar o "calote na dívida interna".
O texto afirma que Lula pode prejudicar "todo mundo que tem dinheiro aplicado nos fundões, em cadernetas de poupança ou FGTS".
A "reportagem" foi redigida a partir de entrevista dada por Gustavo Franco, diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central e um dos "pais" do Plano Real.
Na entrevista, Franco declara que Lula planeja "alguma coisa à la Collor", referindo-se ao confisco de poupanças e contas correntes promovido pelo Plano Collor.
O material foi produzido pela agência "Free Press", criada especialmente para prestar serviço ao comitê de Fernando Henrique.
A distribuição aos jornais foi feita por intermédio da "Agência Estado", contratada pelo escritório de campanha do candidato.
O comitê de Fernando Collor utilizou prática semelhante na campanha de 89. Os cabos eleitorais do então candidato foram orientados a divulgar o boato de que Lula confiscaria as poupanças e desapropriaria imóveis.
Naquela ocasião, o PT classificou os boatos como uma ação de "terrorismo eleitoral".
O próprio Collor chegou a afirmar em debate com Lula, em 14 de dezembro de 89, que o petista defendia o calote.
"Sou contra os calotes, contra o beiço que meu adversário (Lula) quer dar na 'divida interna e, incluída aí, a caderneta de poupança", disse o ex-presidente à época.
O texto distribuído pela assessoria de Fernando Henrique afirma que "uma moratória da dívida interna é um calote parecido com o confisco de dinheiro feito pelo ex-presidente Fernando Collor".
O comitê do candidato confirmou a distribuição e o teor da entrevista com Franco.
Na entrevista, Franco condena supostas declarações do vice de Lula, Aloizio Mercadante, sobre a necessidade de renegociar a dívida externa num governo Lula.
"Temo que os defensores dessa idéia estejam atrás de outras coisas. Que eles estejam não atrás da renegociação da dívida externa, mas da dívida interna. Temo que estejam planejando alguma coisa à la Collor", afirmou Franco.
O repórter da agência de FHC perguntou em seguida: "Estariam atrás de algo parecido com o confisco das cadernetas de poupança? Um calote da dívida?"
Franco afirmou que "alguma coisa, sob o argumento de que o sistema financeiro nacional teve muito lucro nos últimos anos".
Ainda sobre o "calote" a agência perguntou quem perderia. Se os aplicadores do fundão ou das cadernetas de poupança.
Franco respondeu que os títulos da dívida pública "são hoje base da riqueza de muitos trabalhadores, pequenos poupadores, como no caso dos fundos compulsórios, entre eles o FGTS".
Em seu programa, o PT defende não o calote, mas o chamado alongamento do perfil da dívida interna. A prática consiste em renegociar os juros dos títulos do governo em mãos do capital privado, o que pode acarretar uma diminuição dos juros pagos para as aplicações financeiras.
Lula disse à noite em Recife que "isso é tão leviano quanto o que Collor fez em 89".

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