São Paulo, sábado, 20 de agosto de 1994
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Pressões reais

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Com pressões de todo lado, por aumento de salários e preços, o ministro Rubens Ricupero decidiu sair para o ataque, ontem na TV e no rádio. Ameaçou liberar geral nas importações –e usou frases de efeito contra pressões internas, do próprio Estado.
"Só sobre meu cadáver", dizia o ministro, por exemplo, no Jornal Bandeirantes de ontem.
Entre os muitos inimigos a que se dirigiu o ministro da Fazenda está Inocêncio Oliveira, sempre ele. O presidente da Câmara, que é um pefelista e apóia Fernando Henrique, descobriu ontem que falou o que não devia quando não devia. Segundo o TJ, ontem mesmo ele recuou do auto-reajuste.
Na CBN, Inocêncio lamentou, declarou que apóia o Plano Real, que não era a sua intenção etc.
Desprezível
Fernando Henrique agora diz que não quer palanque cheio, que não incentiva nenhuma debandada para o seu lado.
Leonel Brizola, pelo contrário, animou-se com a idéia. Ontem, voltou a cortejar Orestes Quércia, agredindo o peemedebista José Sarney, que teria abandonado o candidato do partido.
"(José Sarney) é um político desprezível", afirmou, no TJ. Com o debate, o velho trabalhista recuperou a velha agressividade.
Violência de rotina
Finalmente a Globo parece ter acordado para o efeito paralelo de imagem –muito negativo– dos exageros antibrizolistas, em sua cobertura da violência, no Rio. Ontem, o Globo Repórter parecia mais uma peça de defesa de sua sede, no Rio de Janeiro.
Parecia até uma resposta ao TJ Brasil de Boris Casoy, que havia noticiado mais uma batalha da guerra entre traficantes, anteontem numa favela da cidade, com um comentário, em sua manchete: "A rotina carioca não muda."
A chamada do Globo Repórter: "Em todo o Brasil, a violência tornou-se rotina." Traduzindo, não é só no Rio. Em seguida: "Na cidade de São Paulo, um assalto por minuto e um carro roubado a cada três minutos."
Traduzindo, São Paulo vem na frente, em violência. Em seguida: "No Rio de Janeiro, a população vive com medo nos bairros onde traficantes controlam as favelas. Nos tiroteios, crianças são mortas por balas perdidas."
Por fim, o restante do Brasil: "Até no interior o medo impera. No Paraná, as fazendas já viram fortalezas procurando resistir às quadrilhas de assalto."
Por coincidência, o candidato Fernando Henrique Cardoso, que ontem fazia campanha no Paraná, vem priorizando esta semana, no horário eleitoral, suas propostas para combater a violência urbana.

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