São Paulo, sábado, 20 de agosto de 1994
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Investigação do bicho atinge PMs

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Justiça Militar de São Paulo começou a fazer uma ampla investigação sobre a vida de policiais militares que estariam envolvidos numa esquema de proteção de banqueiros do jogo do bicho, em São Paulo.
O jogo do bicho movimenta em São Paulo US$ 1 milhão por dia. Desse bolo, 40% é de propriedade do banqueiro Ivo Noal, seguido de Waltemir "Bolão Spinelli", que detém 30% das apostas.
As investigações contra os policiais militares acusados de envolvimento com os banqueiros são realizadas em sigilo. A Folha teve acesso a um dossiê de 150 páginas que revela como estão se desenvolvendo essas apurações.
É a primeira vez em São Paulo que a Polícia Militar tem homens de seus quadros investigados por envolvimento com o jogo.
O dossiê começa com um despacho do promotor José Eduardo Ismael Lutti, da Justiça Militar de São Paulo. Em seu arrazoado, Lutti pede ao Comando da PM a abertura de inquérito "para apurar o envolvimento de policiais militares no recebimento de dinheiro para facilitar a atuação dos banqueiros do jogo do bicho em São Paulo".
O promotor Marco Antonio Ferreira Lima, também da Justiça Militar, diz que as investigações estão se concentrando na suposta presença de oficiais da PM em listas de "protetores" do jogo.
No curso das investigações, já apareceu um nome de oficial nas investigações, segundo revela o dossiê obtido pela Folha.
O ofício 277/94, assinado pelo diretor da Corregedoria de Polícia Civil, delegado Ruy Estanislau Mello, diz que uma agenda encontrada com dois bicheiros traz os nomes de "Capitão Degutti", "Sargento Marques", "PM Cabrera" e "PM Wilson".
Segundo o corregedor Ruy Mello, as agendas foram apreendidas numa casa na rua Caboré, 246, no Jardim Oriental, onde funcionava uma banca de apostas de propriedade de Expedito Salvador Peloso, o "Mineiro".
Num despacho remetido ao comandante geral da PM, coronel José Francisco Profício, o promotor José Eduardo Isamael Lutti relata que o major Flamarion Ruiz lhe disse que a Corregedoria da PM "possui inúmeras outras informações acerca do envolvimento de policiais militares no denominado jogo do bicho".
Num depoimento reservado que prestou à Justiça, que consta à página 26 do dossiê, o banqueiro Ivo Noal afirma que não dá dinheiro a policiais militares para proteção, mas que vê "com carinho" as autoridades policiais que lutam pela legalização do jogo.
Noal não dá os nomes dessas autoridades.

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