São Paulo, sábado, 20 de agosto de 1994
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Cartas na mesa

Para além de ser um fantástico cabo eleitoral –talvez só comparável ao Plano Cruzado em 1986–, o Real é um projeto-ponte. Por si só ele não é capaz de manter a economia estabilizada de modo duradouro. E um dos grandes méritos da atual equipe econômica é não esconder este fato, talvez óbvio apenas para os economistas.
Com efeito, em vez de embarcar na esteira da euforia fácil e eleitoralmente rentável do atual sucesso do plano, a equipe tem sabido comportar-se de modo sóbrio e não esconde que a estabilização só será sustentável se o próximo governo, seja ele qual for, tomar as decisões difíceis e muitas vezes impopulares que garantirão o ajuste duradouro das contas públicas.
E muitos candidatos resvalam nessas questões sem, entretanto, detalhar as suas propostas para resolvê-las. Fala-se muito em reforma da Previdência –sem dúvida um dos principais itens a ser reformulados pelo futuro governo–, mas ninguém entra nos detalhes de como pretende fazê-la, se pretende desvincular o salário mínimo da contribuição mínima, acabar com a aposentadoria por tempo de serviço ou adotar propostas alternativas.
Da mesma forma, um dos temas mais citados pelos candidatos é a famosa reforma tributária. Entretanto, poucos são capazes de apontar as principais idéias para a área, ou seja, quem vai pagar a conta.
Acrescente-se a essas questões complexas pela própria natureza a dificuldade em alterar certas passagens constitucionais que as engessam. De fato, fracassado o processo de revisão constitucional, o quórum para emendar a Carta é de 3/5 dos parlamentares em duas votações em cada Casa. Assim, bastarão os votos contrários ou a simples ausência de 33 senadores para barrar qualquer projeto do governo que passe por mudanças na Lei Maior.
Essa situação potencialmente difícil é mais uma razão para que os candidatos coloquem claramente as suas propostas, de modo que a aprovação de seu nome seja também claramente identificada com os planos que defendem. De nada adianta fazer sugestões vagas para não afugentar eleitores potenciais. É hora de pôr as cartas na mesa.

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