São Paulo, sábado, 20 de agosto de 1994
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Só podem estar brincando

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – "Estamos sentados numa bomba", disse ontem o secretário-executivo do Ministério do Planejamento, Raul Jungmann. A "bomba", no caso, são os gastos com pessoal dos bancos oficiais, divulgados ontem pela Folha.
Segundo documentos do Ministério do Planejamento, a folha de pagamentos dos bancos oficiais engordou gigantescos US$ 6,3 bilhões ao ano desde 1991. Não houve alteração significativa no número de funcionários.
É uma bomba porque, segundo ele, os bancos oficiais não se prepararam, até aqui, para os novos e difíceis tempos –difíceis, diga-se, para quem ganhava (e muito) dinheiro com a inflação. Se essa fonte minguar, o aperto será tão inevitável quanto traumático.
Por esse motivo, o secretário-executivo diz que os bancos oficiais usam uma "tática burra". Deveriam, na sua opinião, promover ajustes passo a passo, evitando um trauma. "Vão ter que enxugar, na marra, os gastos. Será muito mais traumático", acrescentou.
O repórter Gustavo Patú, da Folha, informa hoje que o Banco do Brasil, em apenas um único semestre, dobrou sua folha de pagamentos. Um dos motivos: recomposição abrupta de salários. Daí ter sido o carro-chefe da brutal elevação da folha de pagamento dos bancos oficiais.
Esses números coletados pelo Ministério do Planejamento, revelando a evolução de gastos de pessoal nas estatais, apenas reafirma que o cidadão está muito longe de conhecer e fiscalizar o dinheiro público. E o governo ainda está longe de controlar rigidamente as estatais.
A verdade: eles ganham salários bem acima da média brasileira. Ganham benefícios generosos, com gordas aposentadorias financiadas pelo poder público. Há uma lista imensa de facilidades, incompatível com uma nação pobre e onde falta dinheiro para tarefas vitais como, por exemplo, combate à mortalidade infantil.
Curioso como muitos dos sindicatos dessas corporações se travestem com o discurso dos excluídos do PT. Só podem estar brincando –e, pior, com o dinheiro público.

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