São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
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Política passa na TV, mas Santa Rosa do Purus não vê

ANDRÉ LOZANO
DA AGÊNCIA FOLHA,EM SANTA ROSA DO PURUS (AC)

Política passa na TV, mas Santa Rosa doPurus não vê
Meninas pegam água no rio Purus, que marca a fronteira com o Peru
No único bar, um dos 7 aparelhos de TV
A campanha eleitoral para presidente da República passa ao largo dos 681 habitantes de Santa Rosa do Purus (AC), menor colégio eleitoral do país segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), com 321 eleitores.
O isolamento da cidade, situada na fronteira com o Peru, tornou os moradores alheios à política nacional. Lá, os candidatos são conhecidos como "barbudo" (Lula) e "careca" (Amin). É que programas do horário eleitoral gratuito chegam sem som.
Há sete aparelhos de televisão na cidade. Podem funcionar das 7h às 9h, das 14h às 15h e das 17h às 22h, horários de operação do gerador, movido a óleo diesel.
Com esses horários, somente o programa eleitoral gratuito da noite pode ser visto. Em razão do fuso horário (duas horas a menos em relação ao horário de Brasília), o programa eleitoral da manhã é transmitido às 5h no Acre.
À noite, por problemas técnicos, alguns aparelhos não recebem o som do programa.
"Como vou votar em uma pessoa para presidente se não conheço suas propostas? Vou deixar em branco", disse a moradora Maristela de Oliveira, 29.
Às vezes, a cidade deixa de receber a transmissão da programação política do Acre. Quando a imagem e o som estão perfeitos, é porque a antena está captando o horário eleitoral de São Paulo.
Os moradores –inclusive os políticos– desconhecem os candidatos a presidente da República.
"Em primeiro lugar nas pesquisas, está esse tal de Francisco Cardoso (Fernando Henrique Cardoso). Em segundo, é o do PT, o Lula, e em terceiro está o Diógenes, do PPR, aquele da cabecinha feia (Esperidião Amin). O outro é do PC do B", disse o vice-prefeito Manoel Lopes Duarte (PPR).
As informações sobre fatos políticos chegam à cidade quando os vereadores, o prefeito ou o vice-prefeito viajam para a capital (Rio Branco).
Nas eleições municipais de 1992, havia 140 eleitores em Santa Rosa de acordo com o TSE. O TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Acre informou que hoje esse número subiu para 321.
Eventualmente, surgem exemplares de jornal na cidade quando algum piloto de avião vai buscar um índio doente na região.
Até o último dia 16, a edição mais recente que circulava na Câmara de Santa Rosa era a do dia 21 de julho de "O Rio Branco".
"Não sei quem são os candidatos porque aqui não chega o som do programa", disse a proprietária do único bar de Santa Rosa, Roseli de Oliveira Brito.
Davi Cesar da Cruz, 16, disse que não sabia quem era o presidente do país, mas afirmou conhecer dois candidatos: "um barbudo e um careca".
A diretora da escola municipal, Giovana Maria de Marques Ferreira, 21, disse não saber qual candidato lidera as pesquisas. Segundo ela, as crianças da cidade "não sabem nem o que é candidato".

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