São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
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As surpresas do Plano Real - 2

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

Outro segmento que vem se surpreendendo com o desenrolar do Plano Real é a chamada comunidade financeira internacional. São órgãos oficiais de governos, organismos internacionais e, principalmente, instituições financeiras privadas.
Em um mercado globalizado, que é uma característica deste final de século, há espaço importante para os chamados países emergentes. O Brasil, pela dimensão de sua economia, é um membro importante do sub conjunto formado por estes países na América Latina. Mas tem sido, durante os últimos anos, tratado como um marginal. Os elogios e atenções estão concentrados no México, Chile e, mais recentemente, Argentina.
O principal motivo desta discriminação tem sido os constantes fracassos dos planos de estabilização durante os últimos anos. Como o padrão de análise de nossa economia realizada no exterior segue o convencionalismo do senso comum, a visão de nossos problemas econômicos chega distorcida aos principais agentes do mercado. Agora, com o Plano Real, aconteceu isto de novo.
Na superficialidade dos diagnósticos que circulavam em Wall Street não foi incorporado, por exemplo, o avanço fiscal realizado pelos vários governos durante os últimos anos. Da mesma forma escapou aos olhos dos gringos, embaçados pela fumaça do preconceito, a mudança de qualidade da expansão monetária dos últimos três anos. E seria exigir demais que entendessem os objetivos da criação da URV. A resultante de tudo isto foi a rotulação do plano como mais um engodo eleitoral de curto prazo. Como decorrência desta incapacidade de entender o que estava se passando no Brasil, a eleição de Lula era dada como certa.
Passados dois meses do plano e com a surpreendente, para eles, mudança no quadro eleitoral, começou uma revoada de analistas e investidores estrangeiros no Brasil. Atingidos no bolso, sua parte mais sensível, pela perda dos lucros da alta expressiva dos títulos Bradys brasileiros no mercado internacional e das ações em nossas bolsas de valores, eles tentam recuperar o tempo perdido. Aliás, não é por outra razão que o volume de negócios no mercado acionário já está atingindo a marca de US$ 500 milhões/dia.

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