São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
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José Serra e a "imbecilidade"

MARCOS CINTRA

Estive nesta última quinta-feira proferindo palestra no Instituto Toledo de Ensino em Presidente Prudente, por ocasião das comemorações da Semana do Economista. Falei sobre o Plano Real e sobre o Imposto Único.
Na hora das perguntas, um aluno indagou minha opinião acerca de declaração do deputado e candidato ao senado José Serra, emitida dias antes naquele mesmo conclave, segundo a qual o Imposto Único seria uma "imbecilidade". Fiquei surpreso, mas a audiência confirmou que o parlamentar cometera aquela indelicadeza.
Mas, por que tanta agressividade? Não bastaria dizer "sou contra", e explicitar suas razões?
Antes de mais nada é preciso deixar claro que José Serra é um dos grandes responsáveis pelo atual sistema tributário brasileiro. Ele não o inventou. Mas, como um dos mais influentes deputados no Congresso Constituinte de 1988, ajudou consolidar e consagrar este sistema deformado, ineficiente e profundamente iníquo.
O parlamentar nunca participou abertamente da polêmica que a tese do Imposto Único iniciou. Sempre manteve uma posição crítica, mas discreta. Nunca se deixou arrastar para debates mais acirrados.
O mais curioso ainda é que agora José Serra prega reformas no sistema tributário que ele mesmo ajudou a criar. Campanhas eleitorais fazem milagres!
A polêmica do Imposto Único deixou marcas indeléveis na discussão tributária nacional. Agora todos falam em reduzir o número de impostos, em cortar alíquotas, em simplificar o sistema, em desonerar exportações. Mas, por que não defenderam estas bandeiras em 88?
A tese do Imposto Único suscita ódio e rancor por parte de alguns opositores. Compreende-se a reação dos grupos que defendem seus interesses corporativistas, como a burocracia pública. Mas é difícil imaginar a causa desta reação quando vinda de um acadêmico como José Serra.
Melhor seria se José Serra aceitasse uma luta mais franca com os defensores do Imposto Único. Ele tem uma coluna neste jornal. Eu também tenho. Estão aí as armas e o campo para o duelo. É melhor e mais útil do que ataques traiçoeiros.

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