São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994 |
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Sua letra pode influir na conquista da vaga Mas grafologia não dispensa técnicas como a entrevista JOSÉ VICENTE BERNARDO
É cada vez mais comum encontrar, durante o processo de seleção ou em anúncios, uma instrução do tipo: "Escreva, em 20 linhas, por que você acha que é a pessoa certa para esta vaga". O candidato se esforça para redigir um texto que "venda" bem sua imagem. Em grande parte das vezes, no entanto, o conteúdo importa pouco. É na letra que o selecionador está interessado. Respeitada nos Estados Unidos e Europa –onde surgiu no século 17–, a grafologia ainda não é plenamente aceita no Brasil –onde chegou nos anos 50 com a indústria automobilística. O não-reconhecimento científico de sua eficácia e a vinculação de seu nome a práticas esotéricas são apontados como os principais motivos dessa resistência (leia texto abaixo). Segundo Nanci Augusta Fernandes, presidente da Sobrag (Associação Brasileira de Grafologia), é possível detectar na escrita características como inteligência, dinamismo, honestidade, organização e sociabilidade. Até mesmo doenças circulatórias, reumáticas e psicológicas e dependência de drogas ou álcool seriam manifestadas no ato de escrever. "O nível de acerto é superior a 80%", afirma Nanci. Empresas como Telesp, Banco Francês e Brasileiro e H. Stern acreditam na grafologia. Na Philips, psicólogos estão sendo treinados para a implantação da técnica na unidade de Ribeirão Pires (35 km a sudeste de São Paulo). "O método mostrou-se rápido e eficiente. Fizemos um teste com pessoas conhecidas e o resultado nos convenceu", diz Rogério Sariev, 29, chefe do departamento de recursos humanos. O Banco Francês e Brasileiro (BFB) trouxe a técnica quando chegou ao Brasil, em 1948. Segundo Regina Andreatta, gerente de recrutamento, seleção e gestão de pessoal, a grafologia é usada para contratações e promoções em todos os níveis hierárquicos em São Paulo e para níveis gerenciais nas filiais. Regina, psicóloga e pós-graduada em administração de recursos humanos, diz que o índice de acerto chega a 95%. Mesmo assim, ela afirma que não dispensa outras técnicas, como dinâmica de grupo e "principalmente a entrevista olho no olho". A rede de joalherias H. Stern aplica o teste grafológico desde 1946. "A grafologia está se difundindo em muitos países, especialmente no Brasil, porque agiliza o processo seletivo e é menos desgastante para o canditato", diz Lizete Cardoso, chefe de recrutamento e seleção. Assinatura A assinatura também guarda seus segredos. Segundo Nanci Fernandes, ela dá pistas sobre o que a pessoa gostaria de ser ou sobre o quer que os outros pensem dela. Destacar o sobrenome mostra valorização da família; laços e "enfeites" indicam preocupação com a imagem; assinatura igual à letra indica sinceridade (veja no quadro ao lado as transformações na assinatura do imperador francês Napoleão Bonaparte). Microscópio Mais de 200 aspectos da escrita são avaliados em um teste grafológico. O especialista usa réguas, esquadros, transferidores, lupas e, em alguns casos, até microscópios. Uma análise completa leva de três a dez horas. Os exemplos apresentados nesta reportagem são propositadamente sintéticos, exclusivamente para fins de exemplificação. "Algumas empresas acabam usando o método de forma prematura e inadequada", afirma a psicóloga e consultora de recursos humanos Rosa da Graça, 32. "Cada técnica tem que ser usada na hora certa, conforme o candidato e o cargo." Rosa defende que a entrevista é imprescindível para avaliar em que medida e circunstâncias as características observadas no teste grafológico se manifestam. Próximo Texto: O QUE É COMO FUNCIONA O TESTE GRAFOLÓGICO Índice |
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