São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994 |
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Zagalo erra ao se deliciar com o São Paulo
ALBERTO HELENA JR.
Pior ainda que a seleção tetra de Zagalo e Parreira, embora os momentos decisivos se assemelhassem tanto que muito gente viu Baggio cobrando o pênalti por cima que classificou o tricolor. Isso quer dizer que Zagalo está com a razão? Que o futebol competitivo, ganhador, tem mesmo de ser feio, defensivo e deformado? Na verdade, isso quer dizer que mais uma vez Zagalo está equivocado. Não ao comparar com a sua seleção do tetra este São Paulo que enfrentou o Olimpia, lá e cá, que o resultado foi muito parecido. Mas está errado na conclusão. Feio não é bonito, descobria Sérgio Ricardo, no protesto utópico e tópico dos anos 60. Ponto. Nem por isso é obrigatoriamente eficiente. Esse mesmo São Paulo de Telê foi bi da Libertadores e do mundo jogando um futebol ofensivo, alegre e insinuante, embora cheio de cuidados defensivos, como requer o receituário moderno. A diferença é que, naquelas ocasiões, Telê dispunha de jogadores mais brilhantes do que os atuais, tipo Cerezo, Raí (no auge), Leonardo, Cafu etc. E, a exemplo da seleção, mais uma vez se comprovou que o sistema é o homem. Ou seja: o mesmo sistema, dependendo da classe dos jogadores, pode conduzir à conquista brilhante ou opaca. Ora, o São Paulo é um clube e, como tal, limitado aos prejuízos que o calendário irresponsável e deficitário dos Teixeiras e Farahs lhe impõe. Logo, seu técnico não dispõe dos jogadores que deseja, mas sim dos que estão ao alcance da bolsa do clube e das contingências do mercado. Assim, teve de disputar este torneio com o que lhe restou de um time brilhante que perdeu o brilho. Tanto mais isso é verdade que aí estão Sierra e Alemão, dois armadores recém-contratados e ainda não utilizados por razões burocráticas. Na seleção, não. O técnico dispõe do jogador que quiser para cumprir com brilho as funções que o sistema exige. Esta é a pequena e fundamental diferença, que Zagalo não vê ou finge não ver. A propósito, a síndrome do tetra parece ter se irradiado aos quatro cantos do Parque São Jorge. A diretoria corintiana, que, na temporada passada, havia inovado com Mário Sérgio, Válber, Rivaldo, Leto e os meninos produzidos no terrão, agora descambou para o imediatismo. Trouxe um técnico pragmático –Jair Pereira– e está recheando sua equipe de veteranos, a exemplo de Parreira na seleção. Trouxe Paulo Roberto, Branco, Boiadeiro e mantém a mira assestada em Luisinho, do Vasco, e Mauro Galvão, o líbero de Lazaroni, que está na Suíça. Isso revela a ânsia de cortar a qualquer preço a trajetória vitoriosa de seus dois maiores rivais nos últimos tempos –Palmeiras e São Paulo. É um tiro curto, de uma só bala, que nem sempre atinge o tigre, como este país pôde constatar em tempos recentes e coloridos. Já o Palmeiras, apesar do respaldo de uma multinacional, ou quem sabe por isso mesmo, resolveu investir num futuro próximo, trazendo jogadores jovens, com boas perspectivas. É o caso de Alex Alves e Paulo Isidoro, duas revelações do Vitória da Bahia recentemente vice-campeão brasileiro. Mas, como diz Zagalo, o que vale é o resultado. E esse só virá com o tempo. Vamos esperar, pois. Texto Anterior: Paulistas enfrentam gaúchos na 3ª rodada Próximo Texto: Corinthians defende invencibilidade Índice |
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