São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
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Japão investe na construção de 15 estádios

VALMIR STORTI
ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO

Para Shun-Ichiro Okano, 63, secretário-geral do Comitê Organizador da Copa de 2002 no Japão, a realização do Mundial é mais que um objetivo a ser alcançado.
Depois da massificação da idéia pela mídia japonesa, o direito de sediar a primeira Copa em um país asiático é a realização de um sonho de toda uma nova geração que vem trocando, progressivamente, o beisebol pelo futebol.
Okano recebeu a Folha para explicar o que está sendo feito para vencer a concorrente Coréia, principal empecilho para que a frase "Japão ama os gols" seja oficializada para 2002.

Folha - Bob Charlton afirmou que o Japão não pode dar espaços para a Coréia. A campanha está sendo agressiva?
Shun-Ichiro Okano - Sim, porque a da Coréia também está. Eles estão espalhados por todos os lugares, nas TVs, nos jornais...
Folha - E por que contratar Bob Charlton?
Okano - Bob Charlton é nosso consultor. Durante o Mundial dos EUA, ele trabalhou como nosso relações públicas. Montamos estandes em Chicago e Los Angeles.
Folha - Quem mais trabalha?
Okano - O Pelé e o Beckenbauer também têm trabalhado.
Folha - Onde cada um atua?
Okano - Não existe uma definição, mas como o Pelé é sul-americano, trabalha mais na América.
Folha - Depois que a Fifa anunciou a aumento de participantes da Copa de 24 para 32, mudou o planejamento?
Okano - Não. Trabalhamos sempre com 15 sedes.
Folha - O que já foi feito?
Okano - Nosso projeto prevê a construção de 15 novos estádios e a ampliação de outros já existentes. Em Hiroshima, construímos um estádio para 50 mil pessoas. Em Yokohama, outro para 75 mil, que necessitará de US$ 850 milhões.
Folha – De quanto será o total do investimento?
Okano - Como tomei posse em junho, não tenho ainda em mãos o total que será aplicado.
Folha - De onde vem o dinheiro?
Okano - A província (Estado) entra com uma parte e o restante é patrocinado pelas suas prefeituras.
Folha - E dinheiro privado?
Okano - Não, apenas público.
Folha - O que se fará com esses estádios depois da Copa, se ela acontecer aqui?
Okano - (rindo) Não gostaria nem um pouco de ver turistas dentro de um ônibus, dizendo "aqui foram realizados tantos jogos da Copa". Nigata usará seu espaço para formar jogadores e conseguir colocar um clube na J-League.
Folha - A falta de tradição no futebol pode ser um ponto contra o Japão na escolha?
Okano - Os EUA também não têm tradição e realizaram uma Copa excelente.
Folha - Mas lá moram muitos estrangeiros. No Japão, não existem tantas comunidades assim.
Okano - Realmente não.
Folha - Vocês querem a Copa por motivos políticos?
Okano - Não, de forma alguma. Queremos participar do esporte.
Folha - Mas a Coréia tem mais tradição...
Okano - Muito se fala sobre a falta de tradição. Muitos acham que nosso principal esporte é o beisebol. Pesquisas mostram que, das crianças do nosso primário, o número que pratica futebol é 11 vezes maior que as que jogam beisebol. Imagine em 2002.
Folha - Haveria uma forma de os árbitros errarem menos?
Okano - Joseph Blatter (secretário da Fifa) discutiu a possibilidade de o juiz e os auxiliares utilizarem fones de ouvido e microfone. É uma alternativa, mas a tecnologia não pode ser utilizada em todos os países. As empresas eletrônicas iriam gostar dessa novidade (risos).
Folha - No Japão não há empates. Uma final sem gols, como a da Copa dos EUA, não contraria o lema "Japão ama gols"?
Okano - A J-League está se reunindo para buscar alternativas. Em uma Copa, em caso de empate deveria ser marcado outro jogo para depois de dois dias.
Folha - No caso de a Copa não vir para o Japão, o sucesso da J-League pode ser afetado?
Okano - Não sou pessimista.

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