São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
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ONU discute população mundial no Cairo

MARCELO MUSA CAVALLARI
DA REDAÇÃO

A partir do próximo dia 5 cerca de 180 países tentam decidir quanta gente haverá no planeta no começo do próximo milênio.
A Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento da ONU (CIPD) discutirá no Cairo, Egito, um programa de ação de 20 anos para reduzir o ritmo de crescimento da população.
Os organismos da ONU projetam para o ano 2050 uma população mundial entre 7,8 bilhões de pessoas (a estimativa mais baixa) e 12,5 bilhões (a mais alta). O Banco Mundial trabalha com uma população de 8,5 bilhões já em 2030.
Considera-se que os próximos 20 anos serão decisivos para que se chegue a algo mais próximo do primeiro cenário.
Não há metas numéricas de população a serem discutidas no Cairo, apesar da tendência controlacionista de parte do Primeiro Mundo, Estados Unidos à frente.
Para a CIPD, diminuir o ritmo de crescimento da população, reduzir a pobreza, atingir progresso econômico, melhorar a proteção ambiental e mudar padrões insustentáveis de produção e consumo são metas interligadas.
A população mundial é hoje de 5,7 bilhões de pessoas e cresce num ritmo de mais de 90 milhões de pessoas por ano.
Recursos básicos são dilapidados, não só porque há muita gente, mas porque a maioria é pobre demais e a minoria rica demais.
Países com pouco ou nenhum desenvolvimento técnico poluem água ou arrasam florestas porque não têm como limpar rios e lagos nem outra fonte de energia que não seja a lenha, por exemplo.
Padrões de consumo e desperdício dos EUA ou da Europa são insustentáveis mesmo no Primeiro Mundo, cujo ritmo de crescimento populacional é pequeno. É necessário mudar comportamentos, se se quiser mudar essa perspectiva.
É nesse contexto que se encaixa a igualdade entre os sexos, um dos temas centrais da CIPD.
Há um abismo entre a condição do homem e a da mulher. Cerca de 960 milhões de pessoas são analfabetas no mundo. Dois terços destas são mulheres. Das 130 milhões de crianças sem acesso a escola primária, 90 milhões são meninas.
Dados do Banco Mundial mostram que onde a porcentagem de mulheres analfabetas decresce, decrescem também as taxas de fertilidade e de mortalidade infantil.
Mulheres melhor educadas trabalham. Mulheres que trabalham casam-se mais tarde, começam a ter filhos mais tarde e não têm muitos filhos.
Aumentar o grau de responsabilidade das mulheres no planejamento familiar e tornar métodos de controle da natalidade acessíveis é, para a ONU, a estratégia básica.
Na Europa, América do Norte, Austrália e Japão, de 65% a 80% dos casais usam métodos anticoncepcionais. A família média tem menos de dois filhos.
Na África subsaariana as mulheres têm em média seis ou sete filhos. Só 15% dos casais usam algum método anticoncepcional.
A CIPD pretende "enfatizar dois temas: escolhas e responsabilidades" do lado dos indivíduos e "a necessidade de incorporar considerações sobre população em todos os esforços nacionais e internacionais de obtenção de crescimento econômico susentado e desenvolvimento sustentável".

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