São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Presidente dá 'mau exemplo', diz corregedor

CYNARA MENEZES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O corregedor-eleitoral do DF, Jerônimo de Souza, disse ontem à Folha que o presidente Itamar Franco "exporta mau exemplo para os Estados" ao usar a máquina administrativa em benefício do candidato do PSDB, Fernando Henrique Cardoso.'
"A imprensa provou que a máquina federal está engajada na campanha do candidato oficial, e se o governo federal faz isso, os governos estaduais ficam tentados e começam a fazer o mesmo", afirmou.'
O desembargador é o relator do processo que acusa o governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, por abuso de poder de autoridade. Roriz assinou a doação de 120 mil lotes tendo ao lado seu candidato ao governo, senador Valmir Campello (PTB).'
Segundo Jerônimo de Souza, "está na hora de a Justiça Eleitoral dar um cartão amarelo ao presidente Itamar e consequentemente ao governador Roriz" pelo abuso de poder.'
Ele só pode analisar judicialmente o caso do governador do DF. Cabe ao corregedor-geral eleitoral Aristides Junqueira e ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), se acionados, julgar o abuso de poder em relação ao presidente Itamar Franco.'

Lei
O abuso de poder de autoridade, previsto na lei complementar número 64, de 1990, é punido com a perda do mandato e a inelegibilidade de quem o praticar e com a impugnação da candidatura beneficiada.'
Se ficar comprovado o abuso de poder depois da diplomação, o eleito também pode perder o mandato, e quem o beneficiou fica inelegível por três anos.'
O corregedor disse temer que o "trucidamento e esmagamento" das outras candidaturas com o desequilíbrio causado pelo uso da máquina possam levar ao radicalismo na eleição.'
"O quadro é preocupante porque estimula o baixo nível da campanha", afirmou o desembargador. Ele citou como exemplo a entrevista do diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Gustavo Franco.'
Em suposta entrevista para a agência de notícias do comitê de FHC, Franco disse que o interesse de Lula em rever as condições do acordo da dívida externa teria outro objetivo: o calote na dívida interna com um hipotético confisco da poupança.'
A entrevista, posteriormente desmentida por Franco, foi distribuída pela assessoria de Fernando Henrique Cardoso a jornais do interior do país.'
Como comprovação do uso da máquina, o corregedor Jerônimo de Souza citou e exibiu as reportagens da Folha que mostram bilhetes do ministro das Minas e Energia, Alexis Stepanenko, alertando para a necessidade de acelerar obras e inaugurá-las antes da eleição.'
Comentou também a assinatura de FHC nas notas de real, mesmo já tendo deixado o ministério da Fazenda, e depois, autografando-as, já como candidato.'

Legitimidade
Souza disse que o uso da máquina pode favorecer o futuro questionamento da legitimidade do eleito. "Isto pode ter consequências fatais em um país de instituições frágeis como o nosso", afirmou.'
O desembargador disse ainda não entender o porquê de os governos federal e do DF usarem as máquinas "se têm dois bons candidatos, inclusive à frente das pesquisas".'
"É incompreensível, não entendo porque os dois governos insistem em conspurcar a normalidade do processo, já que os candidatos têm méritos próprios", avaliou.'
Ele usou novamente o jargão futebolístico para avaliar o resultado da eleição. "Não se pode vencer na catimba, no jogo bruto nem no golpe baixo. Vence quem mostrar o melhor futebol".'

Texto Anterior: Itamar manda "desovar" 300 mil casas populares antes da eleição
Próximo Texto: Planalto não dá respostas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.