São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 1994
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Lar Lubovitch dança Cole Porter no Brasil

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Lar Lubovitch, 51, é um dos mestres da coreografia moderna. Seu grupo de dança está comemorando 25 anos com uma turnê mundial que inclui o Brasil.
Em São Paulo, a Lar Lubovitch Dance Company se apresenta dias 20 e 21 de setembro, no Teatro Sérgio Cardoso.
A turnê de 1994 percorrerá 33 cidades da América e Europa, terminando em novembro, em Nova York, em uma temporada de duas semanas no Joyce Theatre.
O programa preparado para a turnê reúne clássicos do repertório de Lubovitch, além de uma estréia: "So in Love", sobre músicas criadas por Cole Porter nos anos 30 e 40.
"Fiz uma nova versão sobre estas antigas canções que, em meu balé, são interpretadas por artistas contemporâneos de música pop e rock", disse Lubovitch à Folha, por telefone, de seu estúdio em Nova York.
Celebradas pela musicalidade e pelas sofisticadas estruturas de movimentos, as coreografias de Lubovitch são metáforas sobre a condição humana, que descartam o lado obscuro da vida. "O mundo não é inteiramente mau", comenta o coreógrafo, que foi pintor no início da carreira artística.

Folha - Por que você escolheu canções de Cole Porter para sua nova coreografia, "So in Love"?
Lar Lubovitch - Cole Porter é um compositor muito importante para as artes cênicas. Ele diz coisas muito especiais sobre o amor e foi um poeta brilhante. Acho que estamos na época de olhar novamente para o que a obra de Cole transmite.
Folha - Você tem feito coreografias para a Broadway, espetáculos de patinação no gelo e para grupos contemporâneos de dança. Como você atua nesses diferentes setores artísticos?
Lubovitch - Sou uma pessoa que precisa de experiências num vasto campo de ação. Por interesse próprio e para meu crescimento preciso de mobilidade o tempo todo.
É um desafio se expressar através de diferentes linguagens. Mas, mesmo trabalhando em diferentes áreas, a minha essência artística permanece a mesma.
Em cada um desses setores eu faço o que tenho de fazer, ou seja, escolho uma peça musical e torno-a visível para o público.
Folha - Como é a nova versão que você criou para o musical "Oklahoma!", que estréia em Londres em dezembro próximo?
Lubovitch - "Oklahoma!" é um grande e famoso musical, apresentado na Broadway pela primeira vez em 1943 e baseado nas músicas de Rodgers e Hammerstein.
Ao longo de todos esses anos, sempre foi encenado com a coreografia original, feita por Agnes de Millo. Agora, é a primeira vez que é concedida permissão para outro coreógrafo fazer um novo balé para o musical.
Uma das sequências mais importantes de "Oklahoma!" é o balé de 15 minutos chamado "Dream Dance". Criei um novo "Dream Dance" para esta nova versão, além de várias outras coreografias.
Folha - Como sua dança se transformou, do início de sua carreira até agora?
Lubovitch - Eu diria que o que mudou foi a minha maneira de coreografar. O artesanato da dança demora anos para se desenvolver, e eu me vejo como um carpinteiro.
É como se, o tempo todo, eu estivesse aprendendo a construir um armário melhor, sendo que aquele armário que demora a vida inteira certamente será perfeito.
Minha arte é uma carpintaria, mas durante toda minha carreira minha dança permaneceu apaixonada, sempre falando de experiências humanas.
Folha - Você afirma que procura tornar a música visível. Como você escolhe as músicas de seus balés?
Lubovitch - Escolho músicas que me estimulam emocionalmente e que provocam minha necessidade de dançar.
Folha - Ao contrário de muitos coreógrafos americanos, você não se preocupa somente com a beleza formal da dança, ou seja, a emoção tem papel especial em suas coreografias. Como você equilibra esses dois elementos, forma e emoção?
Lubovitch - Acho que a dança, por mais abstrata que seja, está sempre mostrando e falando de pessoas, de relações humanas. Não é possível fugir disso.
Então, em vez de evitar isto e lidar somente com abstrações, eu prefiro trabalhar com o fato de que há seres humanos se relacionando no palco.
Isto não quer dizer que minhas coreografias tenham um roteiro no sentido tradicional. Simplesmente evocam experiências humanas.
Folha - Pode-se afirmar que seu contato com a coreógrafa Martha Graham (uma das pioneiras da dança moderna norte-americana) influiu na maneira como você preserva a emoção em suas danças?
Lubovitch - Não, acho que a emoção de minhas danças provêm de minha intuição.
Folha - Antes da dança, você se dedicou à pintura. Essa experiência significou uma percepção visual maior com relação à dança?
Lubovitch - Sim, porque a pintura me ensinou a ver imagens de uma forma muito especial.
Eu transportei esta percepção para a dança no sentido de visualizar a música em minha mente e, depois, encontrar uma forma de concretizar essa visão no palco, através do movimento.
Folha - Você pode comentar o programa que a Lar Lubovitch Dance Company apresentará no Brasil?
Lubovitch - "Four Ragtime Dances" é sobre música do início do século 20, criada por Charles Ives.
"Fandango" usa o "Bolero" de Ravel e é minha versão contemporânea sobre o fandango espanhol, que é uma dança de extrema tensão e contensão sexual.
Além de "So in Love", há o "Concerto Six Twenty-Two", que encerra o espetáculo. É sobre o "Concerto para Clarineta e Orquestra", de Mozart, que é dançado por toda a companhia.

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