São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 1994
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Carlinhos Brown faz defesa da camisinha

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem a Timbalada escapou da onda politicamente correta. Na primeira quinzena de setembro, o grupo baiano lança o disco "Cada Cabeça É um Mundo", em que faz apologia da camisinha.
O álbum sai pela Polygram e tem 14 canções. A que primeiro chegará às rádios leva a assinatura do compositor Carlinhos Brown e incentiva o uso de preservativo.
"Eu vou eu vou/Eu vou na gandaia buscar/Camisinha", avisa o refrão da música.
A faixa conta com a participação de Caetano Veloso. Carlinhos o convidou para dar "um recado" durante a canção, "para improvisar umas palavrinhas sobre o namoro em tempos de Aids".
Caetano topou. No finzinho da música, diz sem disfarçar o tom de conselho: "Transe com quem você quiser/Contanto que seja com quem também queira transar com você/Mas use camisinha/Respeite o amor/Respeite o sexo/Proteja sua vida/Salve muitas vidas."
O texto é do próprio Caetano. Carlinhos conta que o cantor o gravou na Bahia, pouco antes do último Carnaval. "Eu o chamei, ele veio e falou aquilo de improviso."
Originalmente, a música tinha o título de "Sidinha" –referência à Sida (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), sigla que Portugal e outros países de língua latina usam no lugar de Aids (Acquired Immunodeficiency Syndrom).
"Como o Brasil não é Cuba, como não está à esquerda do mundo e prefere macaquear os americanos, a gravadora vetou o título. Alegou que ninguém o entenderia, porque aqui as pessoas falam Aids, feito os gringos, e não Sida", diz Carlinhos.
Resultado: a música recebeu o nome óbvio de "Camisinha". A expressão "Sidinha" só aparece na primeira estrofe: "Fui namorar Sidinha/A camisinha não deu/Vexame/A camisinha não deu."
Carlinhos classifica a canção como "um rock tribal de alerta". "É um recado para todo mundo, jovens e velhos, ricos e pobres. Um recado que, na Bahia, tem valor ainda maior. Porque lá, vez ou outra, aparecem umas holandesas enormes, loiras, com a pele suave. O moreno de Salvador vê aquelas deusas e se ilude que pode namorá-las sem camisinha. Não pode. Quando o assunto é Aids, as aparências sempre enganam."
O compositor explica que pediu a colaboração de Caetano Veloso justamente por desejar que a mensagem da música atinja todas as classes sociais. "Sem o Caetano, o som da Timbalada chega apenas até o porteiro do prédio. Com Caetano, sobe pelo elevador e contamina o prédio inteiro."

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