São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 1994
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Menotti acha injusta punição de Maradona

MATINAS SUZUKI JR.
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

Menotti acha injustapunição de Maradona
O ex-técnico da seleção argentina, campeão mundial em 1978, César "El Flaco" Luís Menotti, aproveita a punição de Maradona, que considera injusta, para refletir sobre a condição do jogador de futebol. Ontem, ele deu esta rápida entrevista à Folha.

Folha - O que o sr. achou da punição de Maradona?
César Luís Menotti - É totalmente errada. Quando se quer ajudar o futebol a ser um fato cultural, deve-se sancionar sempre que se comprove a culpabilidade.
Porém, não se deve deixar o culpado sem a chance de recuperação.
Eu perguntei, quando houve o caso da droga –e, aí sim, havia a culpa de Maradona–, o que ocorreria com um músico ou a um pintor, se fosse flagrado sob o efeito da droga? Ele seria proibido de tocar o piano ou de pintar?
Seria o mesmo que condenar à morte um artista. Um futebolista é um artista.
Para julgá-lo existem outros caminhos que passam pela educação, pelo controle, pela psicologia –se queremos ajudá-lo e não manejá-lo como um objeto de compra e venda.
Neste caso, Maradona não é nem responsável nem culpado. Maradona não sabe nem sequer o que é efedrina.
Alguém lhe deu algo para tomar e cometeram um erro. Recorrer ao precedente para aplicar a sanção, quando ele havia provado que estava recuperado e havia trabalhado com entusiasmo de um ano, não é merecido.
Nesta sociedade, os culpados são procurados pela polícia e pelos juízes. Nós temos que buscar os responsáveis.
Mas quem é o responsável pelo fato de um futebolista passar por estas coisas?
Folha - A federação argentina tem responsabilidade?
Menotti - Não sei. Agora saberemos qual atitude tomará a federação argentina para defender seu jogador.
O que mais me preocupa é a enorme solidão pela qual passa o jogador de futebol nestas horas.
Ele é usado em todas as medidas. Porque ele pode ser vendido sempre, quando está bem, quando está mal, quando comete um erro.
O que ocorreria com os outros estamentos da sociedade se fossem tratados como os jogadores?
Por que não fazem o exame antidoping nas câmaras dos deputados, nos teatros, nos bares? Isto tudo é muito injusto.
Para um jogador de 33 anos, 15 meses é o mesmo que alijá-lo do futebol.
Folha - O que acha de Passarella (o ex-jogador Daniel Passarella, novo treinador da Argentina) como técnico da seleção?
Menotti - Ele é jovem e tem muitas possibilidades. O problema é saber qual será o comportamento da Associação de Futebol Argentino para respaldar a seleção.
Folha - E sobre o tetracampeonato brasileiro?
Menotti - O Brasil ganhou com toda justiça. Jogou bem e jogou à brasileira. O único momento que me preocupou foi o jogo com a Itália. Faltou coragem para não chegar aos pênaltis, sempre imprevisíveis. O Brasil não aniquilou uma Itália que estava ferida.

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