São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 1994
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Escrito nas estrelas?

Nos últimos dias as Bolsas brasileiras pararam para respirar. O movimento de alta vinha exibindo uma força impressionante desde o início do Plano Real. Com a vitória do candidato governista no México e o salto nas pesquisas de Fernando Henrique Cardoso, os mercados encontraram mais motivos para apostar na alta. Esse movimento já supera, por exemplo, a alta ocorrida depois do Plano Cruzado. Mas, à diferença de 1986, tem agora um reforço poderoso sob a forma de investimentos externos.
Há entretanto pelo menos uma dúvida que às vezes assalta as consciências: o interesse pelo Brasil é duradouro ou é apenas "smart money", recursos ariscos e "espertos" prontos a fugir em caso de perigo?
A distinção conceitual talvez seja impossível. Afinal, num horizonte político e econômico favorável a decisão "smart" será mesmo ficar.
Mas a preocupação do governo agora não é com a saída e sim com o excesso de entradas financeiras. Quanto mais dólares desembarcam aqui, maior a valorização do real. E a destruição da capacidade exportadora brasileira não parece estar nos planos do governo.
Mais sensato que impedir a entrada, ou seja, tentar asfixiar a oferta de dólares, talvez seja estimular a saída, quer dizer, dar vazão à procura. Ampliar prazos de financiamento aos importadores, liberalizar contas bancárias em dólares e avançar cada vez mais rumo, enfim, à unificação cambial.
O pior caminho seria atacar frontalmente as próprias Bolsas. Não apenas pelo efeito de quebra de credibilidade que esse tipo de atitude transmitiria aos mercados mundiais. É preciso lembrar que interessa ao governo, por inúmeras razões, um mercado forte. Especialmente agora, para se desfazer de participações acionárias e assim aumentar o seu caixa. Se a procura por ações é grande, o melhor é aumentar a oferta em vez de mudar casuisticamente as regras do jogo.
Caso contrário, a estrela emergente do mercado acionário brasileiro poderá converter-se rapidamente em estrela cadente. Muito antes de realizar os desejos dos investidores nacionais e estrangeiros que resolveram acreditar na estabilização brasileira.

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