São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 1994
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A máquina do governo

Os bilhetes de Stepanenko, o esforço de venda de casas populares, os indícios de que estão ocorrendo interferências políticas no programa de distribuição de alimentos; o quadro dá alento à versão de que o governo federal está extrapolando no apoio à candidatura de Fernando Henrique Cardoso.
Confirmada essa versão, tratar-se-ia da repetição de uma lamentável tradição política brasileira: o governante de turno coloca a máquina estatal, mantida com recursos públicos, a serviço da candidatura de sua preferência pessoal.
Para além de ilegal, essa prática, como bem notou o corregedor eleitoral do Distrito Federal, Jerônimo de Souza, gera um desquilíbrio na disputa que tende a ser compensado pela radicalização. Isso estimula o baixo nível da campanha.
Parece também que o hábito de colocar a máquina do governo para alavancar uma candidatura já está tão enraizado na cultura política brasileira que ele se ativa mesmo quando não interessa ao candidato. Com efeito, FHC dispõe do melhor cabo eleitoral que um postulante à Presidência poderia desejar: o Plano Real. A nova moeda já o fez passar de um modesto segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto para o primeiro posto, com chances de ganhar a eleição já no primeiro turno. Para Fernando Henrique, o risco de ver seu nome envolvido em denúncias de fisiologia é maior que os ganhos eleitorais que tais práticas poderiam conferir-lhe.
De resto, o impeachment de Collor e a CPI do Orçamento representaram avanços na exigência da população por ética na política. Infelizmente, ainda há um longo caminho a percorrer nessa direção.

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