São Paulo, sexta-feira, 26 de agosto de 1994 |
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Igreja aponta 7,4 mil índios sujeitos a trabalho escravo
CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
No mesmo ano, o índice de homicídios contra índios no Brasil cresceu quase 100% em relação a 92. Nos últimos três anos, o aumento foi de 230% (de 13 para 43). Esse total considera 16 mortes de ianomâmis na Venezuela, perto da fronteira com o Brasil, supostamente ocorridas em julho do ano passado. Dossiê Esses são os principais números que constam de dossiê de 60 páginas, obtido pela Folha, que será divulgado na próxima semana. O documento foi elaborado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O documento revela também que, em 1993, 600 índios foram ameaçados de morte; 85 escaparam de homicídios, 39 cometeram suicídio, 4.859 contraíram malária e 124 morreram devido a doenças. Os índios mais atacados pela malária foram os ianomâmis, com 3.132 casos. Diz o dossiê que as causas são "descontinuidade do atendimento e invasões de garimpeiros". Quando trata de homicídios, o dossiê é taxativo: "Constata-se que a prática de genocídio de índios não é coisa do passado. No contexto atual da realidade brasileira isso pode se repetir cada vez com mais frequência". Quem pratica os homicídios, diz o documento, são "posseiros e fazendeiros". Ainda segundo o documento da CNBB, o trabalho escravo a que os índios foram submetidos foi constatado no Mato Grosso do Sul. As vítimas eram das tribos guarani kaiowá e nhandeva. Sustenta o dossiê que há "alto índice" de envolvimento de policiais no abuso de autoridade contra índios, assim como "a impunidade e a omissão do Estado". O dossiê diz que se "pode estabelecer uma íntima relação entre a violência praticada contra os povos indígenas e a política adotada pelo governo". Segundo o dossiê, em 77% dos casos de violência praticada contra os índios, não se encontraram os responsáveis. O livro é prefaciado pelo presidente da CNBB, d. Luciano Mendes de Almeida. Num texto de 26 linhas, ele relata que " a brutalidade da agressão contra indígenas no Brasil mostra a triste omissão do governo em cumprir a Constituição, o Estatuto do Índio e outros atos normativos". Ele diz que "os conflitos fundiários continuam sendo a causa mais importante da violência". Texto Anterior: Aumentam casos da doença Próximo Texto: Ministro da Aeronáutica cita questão salarial Índice |
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