São Paulo, sexta-feira, 26 de agosto de 1994 |
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Combate à cegueira
NEWTON KARA JOSÉ E GERALDO V. DE ALMEIDA NEWTON KARA JOSÉGERALDO V. DE ALMEIDA Uma das mais cruéis estatísticas do nosso sistema de atendimento médico atinge o idoso pobre e cego. Cálculos otimistas indicam que, dos 22 milhões de indivíduos com mais de 50 anos, pelo menos 1 milhão sofre de cegueira. O mais grave é que 80% desses casos são curáveis através da realização de cirurgias de catarata ou pela prescrição de óculos. Persistem a falta de recursos, a burocracia e a falta de perspectivas, entre outros fatores. O paciente ressente-se da impossibilidade econômica, social e cultural. O resultado é esse milhão escandaloso. Além disso, esse número tende a aumentar, em virtude do envelhecimento da população brasileira. O país deverá ter mais de 100 milhões de indivíduos com mais de 50 anos em 2020, o que poderá significar 5 milhões de cegos, dos quais 4 milhões curáveis. Uma política séria de prevenção da cegueira e reabilitação visual deveria ter como meta a realização de algo em torno de 400 mil cirurgias de catarata ao ano. Não chegamos a 80 mil. Em 87, o Departamento de Oftalmologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e o CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia), com a colaboração do Lions Clube Internacional, iniciaram projetos de atendimento a essa população através de mecanismos não convencionais de assistência. Graças a esses projetos, milhares de brasileiros puderam recuperar a visão e a grande maioria teve pela primeira vez acesso à assistência oftalmológica. Baseado nessa experiência, o CBO realizou este mês a Campanha Nacional de Reabilitação Visual do Idoso. Em uma primeira fase, a campanha ocorreu em mais de 60 cidades, mobilizando mais de mil médicos, cerca de 15 mil voluntários e recursos comunitários de toda ordem. A meta é recuperar, a curto prazo, a visão de mais de 12 mil pessoas com mais de 50 anos. A campanha conta com a colaboração do Ministério da Saúde, de prefeituras, de secretarias estaduais e municipais da Saúde, do Lions Club e de outras entidades. Conta também com o apoio de empresas de dimensão nacional, como o Banco Real e a Sola Brasil Indústria Óptica. É algo realmente grandioso, que coloca o Brasil na liderança dos esforços voluntários da reabilitação visual. A campanha tem finalidade educativa, avaliando a extensão do problema e mostrando a exequibilidade de sua solução, dando um exemplo de participação ativa da comunidade na solução de seus problemas. NEWTON KARA JOSÉ, 56, médico oftalmologista, é coordenador da Comissão de Prevenção da Cegueira do CBO e professor titular do Departamento de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da Unicamp. GERALDO VICENTE DE ALMEIDA, 57, médico oftalmologista, é secretário-geral do CBO e professor titular do Departamento de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo'. Texto Anterior: Cetesb investiga a morte de peixes Próximo Texto: Pai acusado de matar filho se apresenta Índice |
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