São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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O eleitor e a educação

O perfil do eleitorado brasileiro, divulgado anteontem pelo Tribunal Superior Eleitoral, acaba sendo um testemunho eloquente a respeito das carências educacionais do país.
Dos quase 95 milhões de eleitores aptos a votar no dia 3 de outubro, mais de um terço (exatamente 35,75% ou 33,8 milhões) jamais frequentaram a escola, embora uma parcela desse total (26,73%) tenha conseguido, de alguma forma, aprender a ler e escrever. Os números servem também como atestado de descumprimento da regra constitucional que define a educação como "direito de todos e dever do Estado e da família" (artigo 205).
Além dos 35,75% que jamais frequentaram escolas, há outros 32,68% que sequer conseguiram completar o primeiro grau, o mais elementar de todos os níveis de ensino. O "direito de todos", portanto, contempla apenas 30,54% dos brasileiros, que são aqueles que conseguiram ao menos completar o primeiro grau ou então ascender aos níveis mais elevados.
Mesmo essa conta é extremamente benevolente. No mundo moderno, em que a competição gira essencialmente em torno da capacitação da mão-de-obra, o dono de um diploma do curso básico nem remotamente está qualificado para o mercado de trabalho. Não são, de qualquer forma, números desconhecidos. A tragédia da educação brasileira é um tema tão batido que não há um só dos candidatos presidenciais que não inclua o resgate do ensino como prioridade.
O fato de se expor quadro tão dramático justamente na antevespéra de uma eleição geral deve servir, no entanto, de alerta para toda a sociedade. Não se trata de uma questão que apenas o governo tenha condições de resolver.
Ao contrário, o desafio está posto para todos os cidadãos. Cobrar verbas para a educação é apenas um lugar-comum que não resolve a questão. É preciso que as verbas, as já disponíveis e as que vierem a ser alocadas, sejam corretamente utilizadas. Não basta que todos, como manda a Constituição, tenham direito à escola. Acima de tudo, é preciso que o nível de ensino dê um enorme salto de qualidade. Esse é o único caminho para o ingresso no Primeiro Mundo.

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