São Paulo, sábado, 27 de agosto de 1994
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Brizola e a Globo, juntos

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi manchete na própria Globo, mas também no SBT, na Record, na Bandeirantes, nas rádios, em toda parte, inclusive Aqui Agora. De uma só vez, as duas maiores forças políticas do Rio, a Globo e Leonel Brizola, enfrentaram uma situação de violência extrema.
A primeira teve uma equipe de reportagem metralhada no morro do Alemão. Pelas suas descrições, foram mais de cinquenta tiros. Um deles atingiu um assistente, que foi operado. Na descrição do Aqui Agora, sempre mais dramático, ele poderá "perder a perna".
Leonel Brizola, por seu lado, teve o filho vítima de "tentativa de sequestro", segundo a polícia, ou então de "atentado político", segundo o próprio candidato. No acidente que aconteceu, seu filho saiu ferido e também foi operado.
Vai chegando ao limite, assim, o convívio com a violência, no Rio de Janeiro. Um convívio que alcançou, afinal, o centro de poder –não só nos casos da Globo e do ex-governador, mas em outros, como dos quartéis militares e do antigo diretor do Banco Central.
Agora, não vai demorar muito para sair –alguma– solução.
Paranóia eleitoral
Não é que não possa ser um "atentado". Mas Leonel Brizola, ontem na TV, foi muito longe no oportunismo. Insinuar que o tal atentado seria coisa de Marcello Alencar, da Globo, de políticos da Baixada Fluminense e até da máfia do Orçamento é abusar.
Apreensão e pânico
Vai mal o grande eleitor, o real. A explosão de consumo ainda não ocorreu, mas a sensação é de apreensão, que pode degenerar em pânico antes da volta do ministro Rubens Ricupero para a televisão, prevista para a semana que vem.
Entre as medidas que devem ser anunciadas pelo ministro, segundo a Cultura e a rádio CBN, estaria um aumento no valor da primeira prestação, nas compras a prazo, para conter aí o consumo. Talvez venha tarde, pelos sinais vistos ontem, no rádio e na televisão.
As primeiras manchetes do TJ:
"Previsão de inflação em torno de 6% preocupa o governo."
"Sai medida para incentivar as cadernetas de poupança."
É que a poupança está virando consumo. Das drogarias às pizzas, tudo está vendendo mais do que devia. No caso das pizzas, estaria perto de acontecer uma falta de embalagens. Os eletrodomésticos da linha branca, vilões preferidos de Rubens Ricupero, já estariam vendendo mais do que no Natal.
Engraçado, nisso tudo, é que a Globo sempre acha o lado rosa. No caso das drogarias, no lugar do excesso de consumo aparece uma ou outra promoção, para baixar o preço –ou para evitar o pânico.

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